blog caliente.

15.7.05

Algum futebol a sério, para variar

É provável que Liedson venha a sair do Sporting. A serem verdadeiros os 10 milhões de euros propostos pelo Estugarda ao Sporting, conjugados com a vontade (que se entende) do jogador de melhorar o seu futuro, dificilmente o Liedson não nos deixará. Tenho pena, claro, porque é um jogador com características difíceis de encontrar num ponta-de-lança com a sua morfologia ligeirinha: grande capacidade de luta, rapidez, azougue, sentido de oportunidade. E pareceu-me sempre humilde e simpático, ainda por cima. Contava com ele para um excelente ano.

As saídas de Enakharire e Hugo Viana (das de Rui Jorge e Barbosa não falo, porque condeno, em absoluto, a forma como foram tratados, embora reconheça serem duas pessoas com "feitios difíceis" - o que não é desculpa para nada, tão pessimamente andou a SAD do Sporting nesta matéria que... nem digo mais nada) abrem lacunas importantes na defesa e no meio campo.

Enakharire seria titular indiscutível do Sporting (com Polga, provavelmente), por me parecer o único capaz de oferecer a Ricardo algum relativo sossego na sua "crónica tremideira" nas bolas aéreas a cair no limite da pequena área. E, também, por ser rápido (Polga é razoavelmente rápido, mas Beto é lento como uma lesma, sobretudo quando tem de se virar e perseguir quem quer que seja que o tenha apanhado a "dormir").
Hugo (o carequinha) seria sempre uma alternativa viável. Mas não é rápido. Cumprirá sempre, será, sempre, um óptimo central de marcação em qualquer clube do quinto lugar para baixo, mas não tem perfil para o Sporting. Tem o perfil humano (gosto dele), mas mais nenhum.
Um defesa central dum clube com aspirações, que passará mais de 95% dos jogos do campeonato a jogar ao ataque, tem de ser rápido, forte, bom no jogo aéreo e, ainda, de saber sair a jogar. E de entregar bem a bola.
Neste sentido, parece-me ser José Castro o central que o Sporting devia ir buscar. Não tinha visto bem o rapaz, admito, quando me pareceu que não passava doutro Beto. Passa. É diferente. É bastante mais rápido e tem melhores pés. E tem grande potencial de valorização, porque parece esperto e é muito novo.
Com Polga, Beto, Veloso, Semedo e Castro, estaremos bem de centrais.

A saída de Hugo Viana deixa-nos órfãos do estratega. Do jogador "fino" do meio campo. Não se conte com Carlos Martins, que é dado a estados de alma, nem com Moutinho (embora este seja uma pérola, faz o meio campo todo) para acrescentar um toque de classe e criatividade ao jogo do Sporting. Não. São guerreiros, Moutinho é indispensável, mas não chega.
Não sei se João Alves, o do Braga, será contratado. É novo e é bom. É certo. Mas, pelo que tenho lido, perante a presença garantida de Rochemback, Custódio, Martins, Moutinho, Labarthe e Loureiro no meio campo, o que me dá garantias dum miolo sólido (Loureiro não é nabo nenhum, ao contrário do que já vi escrito; é um excelente jogador, alto, forte, exímio recuperador de primeiras e segundas bolas, bom na progressão "ali na molhada", sai bem a jogar ou a "limpar", já o vi actuar muitas vezes, quase sempre bem, em vários clubes e, mesmo, na Selecção), faz falta... Figo.

Exactamente. Leram bem. Se os jornais não mentem, Figo sairá a custo "zero" do Real. Aos 32 anos, não seria tentador para Luís Figo regressar ao Sporting, num ano em que se festeja o nosso centenário, sem redução significativa (enfim, muito significativa, pronto) da sua massa salarial, para embarcar num projecto que, se correr bem, poderá fazê-lo jogar na Liga dos Campeões e participar na disputa dum título (ou mesmo mais) muito importante para o clube que o lançou na "alta bola"? Parece-me que Figo seria homem para ganhar "apenas" 2 milhões de euros por época, nos seus dois últimos anos de carreira, ou mesmo algo menos, se o deixassem gerir e usufruir (a 100%) dos seus direitos de imagem. Ora isso significaria, para o Sporting, ter Figo durante 2 anos por 4 milhões de euros. E para Figo, seria acabar em casa, a lutar por títulos, respeitado, reposicionando-se no país que o viu nascer e onde quererá viver, ganhando bem mais do que o que o Sporting lhe pagaria.
Eu faria um esforço neste sentido, se fosse da SAD do Sporting. E mais: Figo não é, agora, o melhor ponta direita da Europa. Mas ainda fará o lugar, se for preciso, melhor que outro qualquer que cá tenhamos, ou que venhamos a ter. Faz, mesmo, ambas as pontas, mais devagarinho que antes mas, ainda assim, com competência. E remata. Marca livres. Dispensava-se Wender, se fosse o caso de o Braga continuar careiro. Não era?

Faltará, sempre, substituir Liedson. Fala-se em Wagner Love. Eu tenho-lhe uma azia do caraças, que é compreensível. Mas, além da azia, tenho dúvidas: parece-me um bom jogador, sem dúvida, mas demasiado rotinado no contra-ataque. Como no CSKA. Ora, o Sporting não joga assim. Em contra-ataque, jogamos nas Antas e na Luz (na Luz tem sido ela-por-ela, aliás). Terá, creio eu, de se arranjar outro ponta-de-lança. E aqui, reconheço, foi pena o Benfica ter-se lembrado do Tomasson. E o Porto ter garantido o Sokota. São bons jogadores.
Haverá alternativas mais fáceis que as que eu vou dizer, seguramente. Mas eu, a sair Liedson, entrava mesmo numa pequena loucura. Já que se vai tentar ter uma equipa forte (vem aí o Centenário, queremos ir à Champion's, queremos ganhar o campeonato) rondaria Crespo (palpita-me que não vai jogar no Chelsea) ou Morientes. Um matador experiente e cotado, um que fosse deste calibre.

Mas atenção:
Até para se poderem ter jogadores deste calibre num plantel heterogéneo, é importante ter lá Figo. Isto não é parvoíce. O nome mais sonante dum plantel, o "líder mediático", convém que seja da casa. Tenho a certeza que Mourinho aproveita muito bem Lampard e Terry, no Chelsea, como aproveitou Baía e Costa, no Porto, porque sabe perfeitamente disto.

View blog authority