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14.7.05

Cunhal, Fidel e tonterias

Maria Eugénia Cunhal, a quem a Judite de Sousa chamou de rectaguarda sentimental do irmão, não disfarça, no olhar, a respeitabilidade da firmeza. Quem quisesse, com esta entrevista, poder enternecer-se com um Cunhal visto por uma irmã devota havia de se ter desiludido. Como Cunhal o faria, também ela guardou teimosamente as recordações do Cunhal irmão ou do Cunhal filho, contando coloquialmente sobre os reencontros de forma a, intencionalmente, fazê-los parecer banais. Reencontros esses que não eram mais do que contingências da luta, a luta a que tudo se submeteu e se secundarizou, até a família e o estar perto da família.

A irmã é parecida com Cunhal. Ambos teimosos, ambos tenazes, ambos determinados, no fio invisível que lhes conduz a vida, a agir sem desvios, ainda que milimétricos. Cunhal previligiava a luta. Afinal, tão parecido com Fidel e com a lucha deste, e que só por mero acaso histórico não se tornou, como este, timoneiro de uma nação, tarefa em que seria, no mínimo, tão coerente como Fidel.

O acaso não quis, porém, que esta suspeita se comprovasse. Por isso os tontos lhe elevam as virtudes que negariam na situação inversa, tal como lançam fogo sobre o similar Fidel a quem os acasos históricos tornaram anacrónico e, por isso, fustigado pelos neo-democratas de sofá, de onde conjuram, com contentinho e desafogado pseudo-humanismo, os abusos do líder cubano.

Falo dos tontos que se distraiem na sua amálgama de impropérios compulsivos e que, quando dão por isso, já se atravessaram a debitar tonterias como quem atira aos pratos na feira. Porque nunca lhes sai o brinde e porque se mantêm irremediavelmente enredados nas malhas do esganiço enlouquecido, sempre se aventuram, incansáveis, a atirar novamente aos pratos. A novos pratos, claro, eventualmente mais incautos ou pacientes do que os anteriores, que tentarão encontrar, sem sucesso, alguma lucidez escondida na prosa insana.

Entretanto, tudo está regular. Acho que a Maria Eugénia nunca divulgará o espólio íntimo de Cunhal. E Fidel ainda é o Comandante en Jefe.

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