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14.6.05

Um café com o Pedro Barbosa

"Já me custa, cada vez mais me custa, sair rapidamente dum drible, dum trocar de pés. Agora por pés, sempre te digo: mais depressa troco os meus, agora, que os de um defesa puto, rápido e atento. É a vida.
Tenho talento? Eu sei, amigo. Olhos também? Pois. Mas esta lentidão, a minha lendária e falsa lentidão, tornou-se, com o tempo, verdadeira. Ainda conduzo a bola com os dois pés e sei fazer-lhe coisas, à bola, que pouca gente sabe. Faço-as é mais devagarinho, sem rompantes que levantam bancadas de gente de costas para o jogo. Ainda não me adivinham o gesto, os putos, mas já se me antecipam quando o faço. Porque o faço cada vez mais devagar.
Nunca fui disputado por clubes europeus de topo. Não sou, sequer, um tipo belo. Dizes-me que sou bonito a jogar e eu acredito. Já me vi, gravações dos filhos. Mas isso consola-me de quê? Duma guia de marcha que não pedi? Eu sei que tu querias que eu ficasse, mas quem és tu? Um tipo como eu, a ficar cada vez mais lento? Como é que sais dum drible? Deixas, cada vez mais, a bola para trás, não é? Já ouviste risos nas bancadas? Pois. Já te custa, cada vez mais te custa. Eu sei o que isso é. Vamos ali conversar, num sítio onde não haja Mourinhos, onde o sucesso seja um pormenor e não uma filosofia. Tomamos um café. Pagas tu, que eu estava muito bem até tu chegares."

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