blog caliente.

27.4.05

Sem rancor

Portas saiu pela porta pequena do seu pequeno partido. Não me regozijo com isso. Nem me entristeço.
A sorte anunciada de Portas estava-lhe estampada no rosto desde o primeiro dia.
Portas há-de ser feliz doutras maneiras. E o partido há-de continuar pequeno. Uma empresa de quadros, qualquer dia passando recibos verdes à boca das urnas, por futuros serviços.

O País não merece Portas porque nem sequer o entende.
Portas não merece o País, pela mesmíssima razão. Com acrescida responsabilidade para Portas, evidentemente.

Do CDS não falo. Teria de falar do Estoril-Praia, que é quase uma espécie de Benfica quando o Benfica deixa, ou pede.
Ou, por outra, falo. Li, algures, penso que no Blasfémias, que Monteiro não soube esperar. Não estou de acordo. Quero crer que não quis. Não se espera nada dali, do CDS-PP. Nem do CDS, sequer. Esperar o quê? É um partido esvaziado, sobretudo porque nunca foi cheio. Um balão à espera do primeiro bufo que o encha de qualquer coisa, sem ser de "quadros".

Um comparsa ávido dos poderes, para ser credível, tem de lhes fazer contrapontos. Aos poderes. Não pode limitar-se a mendigar ou exigir um lugar à direita (ou à esquerda) do Pai e dizer "amen". Nem, ao estilo de Portas, estar ali sentado ao lado do Pai com os olhos na cadeira do Pai. A cadeira do Pai, mesmo que o Pai seja bêbado, mesmo que seja mau, é a a cadeira do Pai. O Pai legitima-se, antes de mais, na própria progenitura. Em democracia, o Avô, o Pai do Pai, é o Povo. Não é o Espírito Santo.
São as regras.
Com a diferença que, em política, podemos sempre escolher o Pai que queremos, sobretudo quando nos não sentimos capazes de constituir família: de sermos, nós próprios, Pais do que quer que seja, entretidos que andamos a ser filhos.

Monteiro pode não vir a constituir família grande mas, ao menos, percebeu que aquela lhe não servia: família de facadas, ainda por cima sem passado, porque o apagaram a golpes de catana, coisa pesada demais para armar pulsos tão finos.

Falta de passado por falta de passado, que se faça um passado novo, a ver se há algum passado no futuro. Assim Monteiro desista de pensar em Portas, que se esqueça dele - como todos os dias acaba por fazer o resto da gente, esquecer-se (atentamente) de quem a traiu - e há-de poder, um dia, olhar para trás sem "frenicoques": pode-se andar para diante a olhar para trás, mas anda-se melhor em frente se levarmos os olhos atentos ao caminho, guardando olhares à rectaguarda para quando descansamos, ou paramos.

Não há pessoas com o ego do tamanho do mundo. Há é pessoas que cuidam que o mundo é pequeno. Adeus, Portas. Escreve e conspira, isso faz-se com os neurónios. Coração, não tens senão aquele que te irriga os neurónios, uma bomba involuntária que todos temos. Do outro coração, desculpa, não te quero triste, mas não tens.

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