Absolutamente relativo
Pouco depois das oito da manhã de hoje já eu percorria a auto-estrada a caminho da capital de Trás-os-Montes, moída da noite mal dormida e irritada pelos deveres profissionais que me obrigaram a tão tormentosa madrugada. Chovia, aquela chuvinha miúda que torna tudo cinzento, que eu sabia ser mais cinzento através dos óculos escuros que teimei em não tirar, como se quisesse prolongar a manhã do sossego debaixo de um tecto. Ia com a sofrida sensação de que todo o hemisfério Norte ainda dormia ou de que, pelo menos, ainda se aquecia debaixo de cobertores, sem hora marcada para coisa nenhuma. Excepto eu. É fácil, nestas circunstâncias, sentir a absoluta penosidade da nossa angústia solitária: sós, no infortúnio de ter de trabalhar a um Sábado de uma manhã nebulosa. Nem a TSF ajudava. Nem uma voz se ouvia. Só música, má música. A dada altura, o George Michael cantava uma música de há vinte anos atrás, de quando o George já era assim como é hoje, muito pop-disco-rock-enfeitadinho. E eu percorrendo a auto-estrada tristonha e ensonada como eu, eu cantarolando a pop-music, até que vi uma placa sinalizadora que me anunciava estar apenas a 3 Km do destino. George: se me estás ler, ficas a saber que, a partir de hoje, sempre que ouvir aquele teu velho êxito chamado "I'm never gonna dance again", lembrar-me-ei, involuntariamente, da zona industrial de Vila Real.
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