blog caliente.

16.3.05

O Vitorino há-de ter previsto tudo isto.

O que de fundamental se reteve, do discurso de posse do Sócrates, é aquilo com que o país anda entretido a discutir: a venda das aspirinas fora das farmácias. Poderá o panadol ser fatal? É conveniente tornar a pílula do dia seguinte acessível a todos, ao simples alcance de um expositor?
Interessante, isto. Caminhamos, se se mantiver a chama acesa, para a discussão, mais abrangente, sobre bens de consumo nocivos. Debater-se-á, eventualmente, a sua composição química de um ponto de vista antropológico. Estudar-se-á, aturadamente, o impacto da ingestão prolongada de cereais ao pequeno almoço no aparelho linfático ou, até, o efeito dos hábitos alimentares dos portugueses no quinto Quadro Comunitário de Apoio.
Saboreia-se bem, isto de discutir tudo. O português gosta de pretextos para discutir e não regateia temas. Cada tertúlia de casa de pasto iniciar-se-á sob a égide do “isso é muito discutível”. E, dentro de pouco tempo, debater-se-á, em cada lar português ou em cada churrascaria de frangos na grelha a venda livre da lixívia Neolblanc. Os estabilizantes do Bolicao. Os pneus Michelin. As chicletes Pirata. A pescada chilena. A carne branca. Os ovos de avestruz. O camarão da costa!
Será memorável, certamente. Uma longa e profícua discussão, alimentada por pequenas, mas grandiosas, medidas anunciadas em cada discurso institucional. Até que, num dia distante - chegada, enfim, a civilização -, possam os portugueses abastecer-se de gasolina sem chumbo de oitenta e cinco octanas na farmácia mais perto de si.

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