blog caliente.

31.7.04

Insensatez (MPB, claro)

Não sou entendido em florestas, nem em fogos, nem em meteorologias. Mas lembro-me de ter discutido (não aqui, mas pessoalmente) com a Lolita, talvez em Setembro ou Outubro do ano passado, sobre o que estaria a ser delineado, em termos de estratégia, por quem tem o dever de prever, estudar, analisar e decidir. O dever da preocupação e do empenhamento é de todos, evidentemente, mas o poder de decidir é mais restrito. E melhor pago, em regra.

A Lolita tinha razão: não iam fazer rigorosamente nada, em termos de "real-politik", nas coisas da prevenção de incêndios. Eu acreditava que sim.

Seja o que for que, sobre isto, se decidiu, mesmo acreditando que houve maduras e demoradas análises sobre a temática (incêndios, prevenção, combate, etc), revelou-se pífio. Pode, até, ter existido séria análise das questões: quero crer que tenha havido. Mas as análises mais profundas, se desprovidas de síntese (e uma síntese pode não ser correcta, pode não resultar, mas pressupõe o esforço suplementar da decisão fundamentada!) resultam mal, quando não se trata de jornalismo ou filosofia. Ou, conjugando ambos os substantivos (cuidavam que eram só os verbos que se conjugavam?), quando não se trata dum país TVI.

Governar é decidir. Governar bem é, em princípio, decidir bem. Ou, pelo menos, tentar decidir bem. É o mínimo que se pede a um governo: que tente decidir bem, respeitando o processo progressivo e laborioso que costuma levar os homens da análise bem feita à síntese possível. Isto é errado do ponto de vista da lógica estrita, que nos ensina que duma análise bem feita sairá, sempre, logicamente, a única síntese correcta que daí pode brotar. Mas a gente sabe que a lógica é, apenas, uma parte da vida, a parte controlável da vida. Para aí 1/6 dela, meus caros. Apenas.

Não interessa muito: no caso vertente, mesmo tendo havido análise séria (deve ter havido), não se sintetizou grande "espingarda". Está tudo a arder, competentes fogos nos endossam o clima e o resto.

Sobre o clima, estamos conversados: ó São Pedro, vai à merda. Mas há-de ser preciso melhorar qualquer coisa, não?
Aceitem um conselho, ministérios que me lêem em segredo (todos, provavelmente, menos o da cultura; o que se entende): não estejam sempre a mudar de estratégia. Depois de a criarem, à estratégia, pensem-na, repensem-na, limem arestas, melhorem, aprimorem, sublimem. Não arrasem tudo sempre que as coisas correm mal. Mudem, mas só o que for de mudar. Não há arroz de tomate malandro que se faça bem à primeira, pode sempre ser preciso acrescentar água, ou sal, ou aprimorar o vinagre do fim... mas não vamos mudar para arroz branco só pela necessidade de correcções ao arroz de tomate.

Os senhores engenheiros e arquitectos que me lerem sabem da importância dos alicerces seja do que for. Sabemos todos, aliás, do trolha ao jurista. Concentrem-se neles, nos alicerces, senhores que mandam. A gente espera mais algum tempo. Mas mostrem alguma seriedade, não sejam sacaninhas de risota pulha (eu estou sempre a ver-vos, caramba, mais respeito pelos meus olhares!), não desatem a construir um país de "Vilas d'Este" - uma coisa colorida mas mal amanhada, mal pintada, que cedo desbota, precocemente se revela fraca, uma chatice sem nome - só para ganharem eleições enquanto aquela "obra" parece consistente nas suas vivas e caducas cores.
Tudo se desmascara, a História costuma ser justa e implacável... e os senhores, que Deus os guarde, hão-de ter bisnetos.

Para o ano não têm nenhuma desculpa. Este ano têm, apenas, a desculpa da insensatez.

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