Calmarias
Estou calmo e confiante. Isto é desinteressante, porque nem sequer vou jogar. Ainda bem que não vou jogar?! O caraças! Eu também detesto ser substituído! Olhem o respeito! Nem sequer fui convocado? Mesmo assim!Não, agora a sério: eu tenho a certeza que vamos ganhar. Mas se não ganharmos (porque se vai jogar um jogo, não é 50%-50%, é mais 90%-10%, mas é um jogo) acho que só o jogo é que não teremos ganho. Eu não sei se vamos ganhar, mas creio muito que sim. Não consigo crer em nada sem respeitar a possibilidade de falhar.
Ganhe-se ou perca-se, que isto sirva para alguma coisa de jeito.
A partir de amanhã, vamos trabalhar mais e melhor. Vamos respeitar-nos mais, sem servilismos nem "falares de alto". Vamos ser um País a sério sem deixarmos de ser brincalhões e de ter brandos costumes quando nos dá para a nostalgia. Ser sério não significa ser implacável. Ser competitivo não implica ganhar sempre, a todo o custo. Ser competente implica reconhecer a possibilidade de falhar. Os resolutos falham, também.
Vamos acreditar mesmo que temos uma identidade, uma imagem de marca. Que passa mais pela nossa certeza de não sermos os melhores, nem os mais ricos, nem os mais belos (mas também não somos os piores, nem os mais pobres, nem os mais feios) que pelas certezas absolutas que nos assolam, apenas, em momentos de exaltação, de "somos os maiores". Não somos nada os maiores. Somos nós, todos os dias. Vamos lavar-nos mais, ler mais, pensar mais, aprender que há um tempo para o conhaque e um tempo para a abstinência. Admitindo sempre que nem sempre decidiremos bem em que tempo estamos, mas que decidiremos bem na maioria das vezes, porque nos esforçamos para isso.
Vêm agora, aí, os emigrantes. Calcinam-me a existência todos os anos, os "avecs". Este ano, para vos dar o exemplo, vou falar com eles com mais carinho e paciência, explicar-lhes aquilo que eles sabem muito bem, mas que fazem sempre por mostrar que esquecem, porque vivem debaixo doutras luzes que crêem mais brilhantes: Portugal é assim, por minha causa, por vossa causa, por causa de nós todos. E não é um mau País. É, até, muito bom, se nós quisermos olhar para ele com olhos de nos ver.
Desculpa, Nikopolidis, que tu até tens cabelos brancos como eu: como diria o Francisco, hoje "vais buscá-la".
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