blog caliente.

17.5.04

Os hooligans e eu


Como de costume, almocei tarde. Para dizer a verdade, almocei durante a merenda do meu filho mais velho, que chegou das aulas esfaimado, vingando-se (nas "sandochas") da famigerada perspectiva das "provas globais do 9º ano". Famigeradas para ele, estuda mal. Não sabe, sequer, estudar. Tem 14 anos encantadores e um pai imbecil, que não sabe o que há-de fazer-lhe. Se calhar, nada. Pobre rapaz.

Engraçado: o pai do meu filho mais velho está, perante o meu filho mais velho, como os cidadãos responsáveis perante os hooligans. "Que fazer?".

Enquanto eu comia umas salsichas fritas (por mim! sabemos cozinhar!) e ele devorava "pães com tudo o que havia", estivemos a ver um programa na 2. Era sobre os hooligans britânicos. Ele ficou impressionado com uma tareia que um adepto do Portsmouth, apanhado sozinho, levou dum grupo de adeptos do Wolverhampton (ou do Millwall, agora já nem sei...). Tive de lhe explicar que uma cena de espancamento acaba quase sempre da mesma maneira: o espancado desmaia e, meia dúzia de pontapés na cabeça depois, deixam-no ali. É como se fosse domingo: toca sempre para a missa e a gente não costuma ir. Será pena...

É claro que, depois disto, tenho de preparar as coisas para lhe explicar que, em não se tratando de hooligans, a barbárie pode ir mais longe. Antecedendo a explicação suprema: a barbárie pode sempre ir mais longe, filho.

Como se explica a um filho (que já cresceu o suficiente para fazer as provas globais do 9º ano!) que vive num mundo em que se esquartejam pessoas, há desemprego, há reféns, há a inenarrável Leonor Beleza sublimada por falecido António, há esfomeados sem "sandochas", há mísseis lançados sobre cidadãos de cadeira-de-rodas que, por sua vez, incitam ao esquartejamento e, provavelmente, inspiram a criação de Fundações(!), há o Manuel Serrão, há o Manuel Luís Goucha, há a TMN e a Vodafone (isto ele sabe, e do gel também), há ... viva o Benfica, então, pronto, que há de tudo, já se percebeu!

Não há 9º ano que resista. E é global, acreditem. A prova, claro.

View blog authority