A culpa dos outros
A Pluma Caprichosa desta semana fala das torturas perpretadas pelos soldados americanos aos prisioneiros iraquianos. CFA está coberta de razão: o que se pode esperar de homens a quem, por força da ridícula, porém sinistra, disciplina militar, lhes amputaram convicções, capacidade crítica, enfim, a identidade. Ainda putos, aprendem que se não matarem morrem e que ninguém, nem sequer o seu Deus, os censura, se matarem por uma causa que lhes disseram ser justa. Eles são apenas imagens, involuntárias porque heterodeterminadas, da brutal fealdade humana. Os horrores das torturas não nos aterrorizam por saber que há homens capazes delas, mas sim que
os homens são capazes delas e, mais ainda, por sabermos que, por mais que ocorram e que nos aterrorizem, sempre nos perseguirão, com uma espécie de culpa civilizacional da qual nunca nos libertaremos. E que se repetirão mais vezes, porque a condição humana é, também, esta brutalidade a que nós, cidadãos bem instalados no centro no mundo, assistimos com horror e com genuína rejeição, porque estamos distantes dela. Aqueles agressores são tão vítimas como as vítimas deles. E eu acredito que eles próprios saibam disso e, neste momento, humilhados, se reneguem a si próprios antes de se redimirem, se isso ainda, ou algum dia, lhes for possível.
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