Coisas antigas
Um dia fui pescar para as Furnas. Disseram-me que não ia pescar nada, que aquilo estava muito batido e, além disso, havia carpas e lúcios, que são vorazes predadores dos pequenos peixes que eu queria. Mas fui. Estava um entardecer de enxofre, como habitualmente. E céu limpo, azul-alaranjado, o que é raro em S. Miguel.
Numa das primeiras "lançadas" o anzol prendeu-se no fundo, no lodo. Perdi-o. Coloquei outro e andei ali às voltas, lança aqui, lança acolá, com resultados interessantes do ponto de vista muscular, perfeitamente nulos do ponto de vista da "rendibilidade piscatória".
Às tantas, o anzol prendeu-se outra vez. Um chorrilho de interjeições depois, aquele aguçado engenho soltou-se... trazendo, agarrado a si, cintilante de sol-quase-posto, o anzol que tinha perdido horas antes.
Os senhores podem pensar: "Caramba! Nada como um besugo para contar mentiras torpes de pesca! Que guelras desavergonhadas, este!"
No entanto, é tudo verdade. Eu juro, foi assim que se passou.
Enfiei este episódio no meu dossier mental "Reencontros Quase Impossíveis". E aprendi que, em podendo as coisas acontecer assim, nada está perdido.
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