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27.12.03

Utentismo

O JPP afirma odiar a palavra "utentes", ao mesmo tempo que aproveita para lhe atribuir uma conotação esquerdista que por acaso não lembra ao diabo. Enfim, caíram-lhe mal as filhozes. Mas eu acompanho-o, apesar disso, porque odeio sentir a opressiva etiqueta de "utente" que me é atribuída assim que entro num hospital ou, pior ainda, numa repartição de finanças. Reduzido a utente, o utente tem de tornar a provar ao mundo que é um pouco mais do que isso. Que não é um mero receptor de um papel com um carimbo. Por isso reclama, resmunga, exige, para se sentir matéria orgânica de novo. Para se sentir vivo. Paradoxalmente, o utentismo estimula, por isso, o número de reclamações nos livros amarelos da Administração Pública. E integra-se, de resto, num plano mais vasto e mais ambicioso de erradicar dos serviços públicos todas as expressões que, ainda que subliminarmente, contenham simbolismos discriminatórios ou menos respeitosos. Hoje, no mundo civilizado pós-cavaquista, dever-nos-emos referir às vigilantes das escolas como "auxiliares de acção educativa". Às ajudantes, nos hospitais, como "auxiliares de acção médica". Havemos, dentro de algum tempo, por via de um ministro ainda mais reformista (que eu imagino laranja), de nos sentir obrigados a tratar os professores por "especialistas de acção educativa" e os médicos por "especialistas de acção médica". E quem se esquecer disso será um miserável possidónio. É o progresso!

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