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4.10.03

Senhor Primeiro Ministro

Os meus respeitos. Espero, aliás, não o encontrar amanhã, à hora do jantar. O Paco dava cabo de si, sobretudo se levasse aquele ministro que se penteia de forma antiga e pop, cujo nome rima com Renault, que são bons carros mas apaneleirados. Já tive um, mas desfiz-me dele, do Renault, o que me descompromete parcialmente... OK, eu depois edito isto.

Bom.

Não lhe vou falar do Lynce, nem do pai da criança. Mas creio piamente que o senhor acredite (e, mais, que gostasse de transmitir isso ao país!) que o Lynce favoreceu a criança de livre, espontânea, altruísta, desinteressada e loira vontade. Nem sequer se percebe a coisa doutra forma. Haveria lá possibilidade de existir algum pai, desde que fosse ministro do governo que vossa excelência lúcida e altaneiramente dirige, que, ao mesmo tempo que pensasse esforçadamente o país de todos nós, pudesse sequer imaginar subverter fosse o que fosse da nossa límpida, produtiva, anti-deficitária e cristalina consciência colectiva constitucional? Em suma: que fosse sensível à cunhazinha?

Claro que não haveria.

O pai não pediu para a filha. Estamos a inventar tudo, cambada de mal intencionados que nós somos. Tudo não passa de um "fait-divers" duma oposição cada vez mais ressaibiada, porque, como os senhores gostam de dizer, sempre que têm poder, "estamos a governar bem!". Gravem isso, é uma patente vossa.

Vai-se a ver, às tantas, o que se passou foi, apenas, o seguinte:
-" Tá lá, Pedro? É o outro. Sabes que a minha filha... pois, estava quase...."
- " Bom, isso acontece...."
- "Pois, não era nada, era só para te dizer...."
- "Claro..."
- "Sobretudo, não faças nada, ouviste? Telefonei, sobretudo, para te lembrar isto: não faças nada!"
- "Claro, não farei nada... Ainda bem que me telefonaste, não fosse eu fazer alguma coisa sobre isso..."
- "Não, precisamente, telefonei-te para que não faças rigorosamente nada! Entendeste bem? Nada! Favores nunca!"
- "Evidentemente. Percebi perfeitamente. Adeus. Por quem me tomas?"

Para quê tanta atoarda, Deus meu, lançada sobre pessoas impolutas e exemplares até à epopeia, quando se está mesmo a ver daqui que tudo o que ultrapasse este diálogo fictício (mas absolutamente provável!) está inquinado da mais malévola fé?

Fique em paz, senhor primeiro ministro. Deus o ilumine na condução do país, que a carroça vai cega. Santa Sandra Cláudia o proteja.

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