The rain man
Depois da politização da justiça, a emocionalização da política. O João Pedroso (irmão do famoso Paulo) foi há pouco entrevistado no telejornal. Emotivo, desnorteado, atabalhoado nos pensamentos e pouco assertivo na expressão e, no entanto, absolutamente credível. Admirou-me ver um homem bem intencionado, sem uma ponta de auto-censura ou de contenção própria de quem está habituado a falar em público: falou a mais, falou a menos, deu recados ao irmão, que veio, afinal, defender. The absolute rain man. Indisfarçável, o desespero de um cidadão anónimo (que se esqueceu que é juiz ou para quem isso deixou de ser relevante) e que debita os seus desgostos para quem o quiser ouvir, contra-argumenta sobre factos e opina sobre instituições, incluindo aquela de que faz parte, para se defender a si próprio e aos seus. Ingenuamente convicto de que a sua palavra (de
honra, pois) será suficiente para alcançar a redenção. Voluntarioso, no melhor sentido do termo. Disparatado (lembro-me de ele soletrar F-A-L-S-O) e dando o flanco suficiente para a própria descredibilização e, talvez, para o enterro político do irmão. Acossado entre duas teses contrapostas para as quais ele sabe que a verdade material deixou de ser relevante para se construir o destino do processo, que há-de ser o da facção mais poderosa. E inseguro, tanto que nem todo o voluntarismo do mundo o ajudaria a disfarçar a sua própria e emotiva fraqueza.
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