blog caliente.

10.10.03

Do Rato, da SIC, doutras coisas ...

Pois é, parece que "por acaso" um passaroco chilreante lá conseguiu que um escrito desqualificado que terá feito desse azo a que juízes pudessem mostrar que sabem de direito. Coisas da passarada que, de tanto incomodar os juízes com chilreios que eles são obrigados a ler e a sobre eles decidir, de vez em quando - "por acaso", note-se, que os passarocos nem sabem bem o que chilreiam - permitem àqueles que nos mostrem que são humanistas.

Adiante, que este "por acaso" foi escrito pela lolita - seguramente - em dia de neura ...

O PS está a agir mal. Não por os seus mais ilustres membros se emocionarem e alegrarem quando um amigo e correligionário se vê livre (literalmente) de uma situação MUITO desagradável.

Mas porque, agindo como agiu, transformando em festa partidária uma questão que extravaza claramente do seu estatuto de partido político (e das inerentes responsabilidades), vincou ainda mais a sua condição de refém deste processo e do destino que nele terá o Paulo Pedroso.

Até é verdade que as perspectivas são boas. Quem está atento sempre desconfiou que a prisão do PP (irónica, esta sigla) se deveu menos à qualidade das "provas" reunidas contra ele, e mais à irritação do juíz e do seu compagnon de route do MP ante os múltiplos (porventura condenáveis, mas compreensíveis à luz da emoção - vidé texto do besugo) telefonemas que o Costa, o Ferro , o Santos e porventura outros desataram a fazer para outros orgãos do Estado. Posso ser injusto, mas desde o princípio que achei que aquela prisão tinha sido causada por mesquinhez e despeito.

Mas, sejam quais forem as perspectivas, como pode o PS ter agenda política enquanto nos Tribunais decorrer este processo? Como pode ser oposição, almejar governo, preparar programas, apresentá-los ao País ... enfim, ser um partido político, se faz uma festa quando um dos seus tem uma decisão judicial favorável? Ou se assume - todo o Partido - cara de velório quando a decisão é desfavorável?

Julgarão eles que a sombra do decurso do processo não os vai atormentar em cada iniciativa, em cada conferência de imprensa, de cada vez que qualquer um dos dirigentes tiver um microfone à frente da cara? Julgarão eles que se livram de terem que comentar cada decisão, cada recurso, cada arguido, cada juíz, cada prazo, cada medida? Que não lhes pedirão comentário sobre se as inquirições devem decorrer ou não à porta fechada? na prisão? em Monsanto ou na Boa Hora?

O PP (agora falo do Portas) viu-se e desejou-se para escapar ao síndrome Moderna, que atrapalhava cada discurso, cada medida, cada iniciativa que ia ocorrendo. E tentou sempre assumir um discurso (repetido até à náusea, porque as perguntas eram-lhe nauseodiáriamente feitas) de "O Tribunal lá; o Partido e o Ministro cá".

Não cola. Ninguém olhava para o Portas que não se lembrasse da Moderna e da Amostra e do Braga Gonçalves e daquela mixarofada toda. Mas tem efeitos a longo prazo. Designadamente, hoje em dia prepara-se a conclusão desse julgamento, isso voltou a ser notícia, mas o Portas e o que ele acha disso já nem surge na dita notícia. Acho que os jornalistas já nem perguntam nada sobre esse assunto.

O PSD também passou por alguns calafrios, à conta do Isaltino. Mas o Isaltino deixou a ribalta e não há ninguém que pergunte hoje ao Barroso o que é que ele pensa do assunto da conta da Suíça. E aposto que se o Isaltino for preso preventivamente o Barroso vai fazer a cara de seminarista do costume e vai dizer que a justiça será feita sem quaisquer interferências.

É insensibilidade? Pode ser que sim. Mas quem não conseguir agir assim que perca a ilusão de que pode ser político.

Imaginemos (com calafrios) que o Ferro e sus muchachos ganhavam as próximas eleições. Aposto que elas se realizarão antes de terminado o "processo Casa Pia". E como será que o Ferro vai reagir ao facto de o Pedroso se sentar no banco dos Réus? Também com cara de seminarista, porque passou a ser primeiro ministro? Julgará ele que as imagens de arquivo da festa de ontem não passarão abundantemente em todas as TVs?

Vale (ao PS) o Sampaio. Como profissionalmente é advogado, também deve ser "por acaso" que tem sabido agir e falar com prudência, e sem que isso o torne menos portador de sentimentos.




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