dos mabecos
Sou muito sensível aos problemas do João Moutinho e compreendo que ganhar apenas 100.000 euros por mês cria problemas ao jovem, pois deve criar, problemas esses que a maior parte das pessoas não entende, a começar por mim, que gostava de ganhar isso num ano e não conseguirei nunca, até ando a pensar em fazer uma exposição a um ministério qualquer, palavra de honra, realçando nessa exposição que o próprio João César Monteiro foi melhor pago que eu para fazer um filme que tanto fazia passar na rádio, como nas telas, como nem sequer passar - o efeito agudo, subagudo e crónico do "Branca de Neve" dispensa-me de mais comentários sobre "placebos pagos" - e que isso pode ser considerado como vagamente injusto e merecedor de caneladas.
Mas não é disso que se trata agora. Agora é disto.
Uma anestesista morreu. Ou seja, morreu uma mulher que, entre outras coisa que devia fazer enquanto esteve viva, anestesiava doentes para serem operados. Às cataratas, à vesícula, ao caralho (aquilo de aparar o lápis aos que têm piroca marcada pelo destino), aos intestinos e outra esplancnologia, aos ossos e "às coisas de cona".
Agora, morreu. O que deve ser fodido. Para ela, para a família, para os amigos. Mas sobretudo para "os nove doentes cujas cirurgias tiveram de ser adiadas". Eu fodia esta anestesista. Que cabra. Morrer assim, obrigando nove utentes a regressar a casa sem a devida ablação de vísceras, quistos, excrescências, miomas e esporões? Esta mulher merece mas é a morte. Já a teve? Não importa: mata-se de novo, porque tem de aprender, mesmo já cadáver, duas coisas:
1 - Não se adiam cirurgias sem ser por motivo de força maior, sendo que a morte honrosa e honrada deve ser reservada para quem é utente, ou seja, para quem utiliza. Ela morreu em casa, não utilizou, não era "utente", portanto que se foda, não é motivo de força maior, "ai morreu?, punham lá outra!", "não há outra...", "pois que houvesse!" . Um utente é um conjunto de direitos enfiados dentro duma caixa torpe, que ressoa e goteja ranço.
2 - A morte dum médico é uma chatice para os utentes e não merece outra referência que não seja o prejuízo que a sua morte causa a outrem: os utentes que, embora ainda vivos, se viram prejudicados por esta chatice de o raio da mulher ter morrido, "e agora quem me paga o caralho das despesas do táxi?", têm direito à indignação. E até a senhora enfermeira do Bloco dissertou sobre alternativas, a parva, em lugar de se vestir de luto e de dizer "respeito!".
É um mundo cada vez mais cão, este. E cada vez mais há gente rasca a amplificar-lhe os ganidos do fim.
Mas não é disso que se trata agora. Agora é disto.
Uma anestesista morreu. Ou seja, morreu uma mulher que, entre outras coisa que devia fazer enquanto esteve viva, anestesiava doentes para serem operados. Às cataratas, à vesícula, ao caralho (aquilo de aparar o lápis aos que têm piroca marcada pelo destino), aos intestinos e outra esplancnologia, aos ossos e "às coisas de cona".
Agora, morreu. O que deve ser fodido. Para ela, para a família, para os amigos. Mas sobretudo para "os nove doentes cujas cirurgias tiveram de ser adiadas". Eu fodia esta anestesista. Que cabra. Morrer assim, obrigando nove utentes a regressar a casa sem a devida ablação de vísceras, quistos, excrescências, miomas e esporões? Esta mulher merece mas é a morte. Já a teve? Não importa: mata-se de novo, porque tem de aprender, mesmo já cadáver, duas coisas:
1 - Não se adiam cirurgias sem ser por motivo de força maior, sendo que a morte honrosa e honrada deve ser reservada para quem é utente, ou seja, para quem utiliza. Ela morreu em casa, não utilizou, não era "utente", portanto que se foda, não é motivo de força maior, "ai morreu?, punham lá outra!", "não há outra...", "pois que houvesse!" . Um utente é um conjunto de direitos enfiados dentro duma caixa torpe, que ressoa e goteja ranço.
2 - A morte dum médico é uma chatice para os utentes e não merece outra referência que não seja o prejuízo que a sua morte causa a outrem: os utentes que, embora ainda vivos, se viram prejudicados por esta chatice de o raio da mulher ter morrido, "e agora quem me paga o caralho das despesas do táxi?", têm direito à indignação. E até a senhora enfermeira do Bloco dissertou sobre alternativas, a parva, em lugar de se vestir de luto e de dizer "respeito!".
É um mundo cada vez mais cão, este. E cada vez mais há gente rasca a amplificar-lhe os ganidos do fim.
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