da óptica funda
Reparei sempre nele, tem exactamente a minha idade, reparei nele desde o início, já passou quase um ano: olhos de medo controlado, um medo palrador.
E na mulher também, reparei mais tarde, que ele primeiro vinha só: olhos de tristeza segura, muda.
E na filha, que vinha menos, mas vinha quase sempre: olhos que não sei dizer bem. Reparei menos.
Não é muito frequente isto: olham-me nos olhos, sempre me olharam, não estou assim habituado. Gosto. Mas não sei, até, se dura este gostar.
Entreolham-se muito e sempre se entreolharam. Muitas vezes sem falar, quando estou eu. Têm, certamente, no seu pudor da exposição, os seus códigos de mudez.
Piorou. E os olhos dele, agora, são ainda de medo, sim, mas é já um medo quase sem controle. E os da mulher são olhos de tristeza, como sempre, mas adquiriram uma frialdade quente, uma cova de dor funda, quase uma montanha, quase como a dele, "dor de parceira", suponho. E os da filha ainda não os revi bem, ainda não veio, deixemo-la sossegada para já, mas serão olhos de mistura.
Ele e ela, ela e ele, agora já só quase feitos de medos e silêncios, ainda me olham no fundo dos olhos, a ver se me vêem neles. Mas ainda não me vêem, não podem, não deixo ainda: eu ainda não sei.
Reparei que continuam a entreolhar-se muito, no fundo dos olhos um do outro, como se estivessem de olhos dados.
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