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6.4.08

O Sousa e os anósmicos

Sousa, que se cuidava um futuro e promissor ponta esquerda, era apenas um interior esquerdo polivalente da vida. Daqueles que não servem para a ponta esquerda, lento Sousa, corpo pesadão e sem nervo, mas que se ajeitam sempre se for "um bocadinho por dentro".
Nem sequer era ambidextro: olhando-o sem ele notar, era mais ambivalente, calçado nas botas cambadas por outro. E muito pouco "sinistro".
Um dia, na sua polivalência ambiciosa, deu por si a jogar na ponta direita.
Sousa, que era polivalente - mas interior esquerdo de raiz -, não achou estranho. "O treinador é que sabe", o treinador disse-lhe "entra" e ele entrou. "Antes ser convocado que estar no banco", pensou Sousa, cuidando-se seguro.
Adaptou-se mais ou menos bem, o Sousa, à ponta direita. Estrebuchou pouco. Está no topo da sua carreira - ele não sabe que já está - e pensa que, se se aplicar na ponta direita, lentamente, talvez ainda vá poder jogar a interior direito, um dia destes, e sossegar a culpa de manter, na ficha, ainda e sempre, "Sousa: interior esquerdo".
Mas não vai sossegá-la. À culpa. Vê-se da bancada a polivalência, mais mental que física, de Sousa.
E a polivalência mental, essa qualidade inqualificável, nem ganha campeonatos nem amigos com olfacto para mentes tão suadas e com tanta falta de sabão.
Para Sousa, serve assim. Desde que seja titular, joga onde lhe pedir o diabo. Mas cheira sempre a enxofre.

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