Esguichos de besugo
Sabem aquilo da dúvida?
Não falo daquela coisa do cepticismo mais ou menos metódico perante as coisas mais ou menos todas que, extremado, faz o céptico repetir-se no mesquinho e cansativo "isso vamos lá a ver, hum, isso agora... hum... deixa-me mas é pensar muito e consultar bibliografia e depois já digo qualquer coisa, veremos".
Não. Eu falo só da pequena dúvida, esporádica, visceral. Espasmódica. Reactiva. Tipo cólica.
Por exemplo, vejam aquela surpresa que nos suscita uma alteração relativamente brusca no padrão de comportamento duma pessoa que conhecemos há muito tempo. Nós percebemos que houve ali mudança, admitimos a mudança, claro, até porque sabemos que os padrões de comportamento daquela pessoa estão mais dentro da nossa cabeça do que na dela, mudou, tem direito, já não lhe apetece tratar-nos da mesma maneira, está certo, mas gostamos de saber, ao menos, o que motivou a cambalhota, que desígnios há ali a presidir à "voltereta". E perguntamos-lhe: "Então, pá, a que propósito veio isso?".
Bom. A dúvida de que falo é a que surge quando, em lugar de nos responderem "mete-te mas é na tua vida, ó carrapato!", ou "olha, é que de facto estou a começar a defecar duma altitude um bocadinho maior para ti, se olhares para cima até topas" - e é preciso ver que, em ambos os casos, podemos perfeitamente coaxar, por muito que nos sintamos tristes por dentro, "está bem, então vai-te encher de moscas, ou pó caralho que te foda, andor!" - nos respondem, sorrindo só com a boca, mal nos encarando os olhos, "ó pá, não se passa nada, a sério, que ideia a tua, dá cá mas é um abraço!".
É uma dúvida quilhada. Pequenina, está ali ainda bebé, vimo-la nascer e tudo, mas geralmente cresce numa certeza qualquer e a grande velocidade.
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