Sobre o privado e o íntimo
Quando entrevistado pelo Carlos Vaz Marques, Caetano Veloso fez-se intencionalmente presunçoso ao afirmar que é melhor músico do que Chico Buarque, Milton Nascimento e Gilberto Gil, apenas para demonstrar que, quando diz que é pior músico do que qualquer um deles, o diz por puro realismo e não por modéstia - uma vez que, como então disse, ao afirmar-se como
o melhor conquista o estatuto de imodesto. Ao que parece, essa tirada quase infantil valeu-lhe uma primeira página da
Veja, publicação a quem ele, depois do sucedido, dedica os piores adjectivos que se podem dedicar ao jornalismo. A estratégia para a demonstração da imodéstia era, de facto, inovadora: o Caetano da voz adocicada, ali maviosa, a declarar-se o melhor, para com isso provar que sabe bem que está uns furos abaixo dos outros. E está, claro. Caetano teve é de o admitir socorrendo-se da razão lógica e, fazendo-o, expôs demasiado a mágoa. Que não é condenável, sequer; devia é ter sido deixada onde estava, silenciosa e recatada, antes de poder ser observada por olhos terceiros.
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