blog caliente.

2.1.07

Sempre

Estar sempre custa.

"Vou estar sempre!" não custa nada a dizer.
Diz-se bem e, sobretudo, soa bem na maior parte das vezes em que se diz. A quem diz e a quem escuta.
Aliás, soa bem por vários motivos. E bastam dois, como exemplo: porque geralmente se diz quando apetece mesmo dizer isso, ou coisa parecida, e porque se diz, em regra, a quem quer mesmo escutar isso, ou coisa parecida.

Uma conversa a dois em que, a dada altura, um diz que "vou estar sempre do (ao) teu lado", referindo-se ao outro, sobretudo se houver música, alguns copos bons e recarregáveis, se existir conforto ou reconforto dos corpos, se for dia de descanso na manhã seguinte, e se calhar ninguém andar a chatear a cabeça de ninguém lá no trabalho, é uma conversa agradável. E genuína. Ali, naquela altura, a verdade reina.

A parte chata é que "estar sempre do (ao) lado de alguém" é cansativo, difícil, complicado. A maior parte de nós todos tem pouca capacidade para chatices. Para "sempres" que sejam, ao menos, "quase sempres". Isto começa logo no tempo verbal, que não existe no Português nem em língua nenhuma: o incondicional.
Na dúvida, no dia-a-dia, "sempre" deve ler-se "sempre que eu puder". Ou seja, trata-se aqui dum condicional miserável, reduz-se soezmente o "sempre" a "se", verte-se a incondicionalidade torrencial dos bons momentos num jarrinho de fancaria: o penico da alma fica quase cheio, na mesma.

Mudando de assunto: eu gosto desta música, muito. Vou gostar sempre dela (embora o Sting me enerve, mais a sua conservação física detestável, que só me apetecia passar-lhe com um camião por cima: sempre e sempre que pudesse, sempre mesmo).

A lolita também gosta, que eu sei. Foi ela que ma mostrou, até.
E o alonso também gosta, que eu também sei: mostrei-lha eu, mas apesar disso...

Vamos dificultar os verbos cada vez mais. Vamos complicar. Já chega de simplificadores.


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