Família Adams e Freixo de Espada à Cinta: comportamentos de risco
Vários jornais têm abordado a eventual saída de Carlos Martins do Sporting.Ora, isto era uma boa notícia, se deixasse de ser uma eventualidade para passar a ser uma certeza.
Mas aquilo anda difícil.
"Que é um talento, e tal e tal; e que está descontente..." - isso nota-se, tem cara de quem anda sempre com o seu pedaço de azia -; e "que pode ir para um clube romeno, embora haja mais clubes interessados" no pequeno génio (consta, até, que há o Benfica à babugem, mas isso não sei, desconheço essa agremiação que dizem que ganhou por 5-3 ao Real Madrid em 1962; não me lembro agora disso, bateu-me aqui uma amnésia relativa, porque a ser verdade eu tinha só um ano, um ano é pouco para a memória); e que "vai fazer muita falta ao Sporting!".
O caralho.
Vai fazer falta ao Sporting por alma de quem, o Carlos Martins? Essa espécie de matutino que sai à noite? Vai, mas é o caralho.
Vamos ruminar. Ora, a Roménia é um país que exporta, fundamentalmente, treinadores de futebol com óculos de armação metálica, jogadores que estão quase sempre lesionados (o Hagi tinha uma lesão crónica dentro da caixa córnea, sim, não sabiam?, chamava-se pancadão inenarrável, a sério, não era só o Niculae que padecia dos metatarsianos), mineiros violentos que pontapeiam senhoras nas ruas, populares que assassinam casais ditadores apenas por isso - ditar é pecado, agora: estamos agora no tempo das cópias, não é tempo de ditados; agora quem dita morre, já lá vamos -, vampiros e vendedores de pensos rápidos.
Importa, basicamente, que a Roménia se aperceba da vantagem de importar Carlos Martins. Essa é que é essa.
Eu já escrevi cartas aos vários clubes romenos que há (até ao Politécnica de Timisoara e ao Universidade de Craiova, escrevi mesmo ao Rapid de Bucareste; ao Dínamo não, porque não quero prejudicar os tipos na taça UEFA) a dizer que sim, que levem o Carlos Martins, que ele não só tem um imenso talento como tem uma excelente cara de romeno, sim, que ele tanto podia andar a vender pensos e aromatizadores para viaturas na Circunvalação, como a assassinar ditadores na mó de baixo!
Nisso dos ditadores, extrapolando bastamente, o Carlos Martins é como nós todos.
Mudando de assunto.
Não, não mudando. Parece que vão matar Saddam. Mas não vão: vão é enforcá-lo.
É a pena de morte dos ladrões de cavalos, é a corda ao pescoço de Egas Moniz que sinto a apertar-me o tornozelo? É capaz de ser.
Reparem bem nisto: eu antes queria que o Carlos Martins ficasse no Sporting e fosse sempre titular, do que saber que vão enforcar Saddam e parecer-me que toda a gente acha isso perfeitamente bem, excepto aquelas pessoas que são contra a pena de morte por ideologia básica.
São coisas diferentes. Está bem, eu não suporto a ideia da "pena de morte" - porque as penas deviam ser leves, sempre leves, como as dos passarinhos - mas sei que trato aqui de coisas diferentes.
Não consigo explicar melhor do que isto, ou não estou para aí virado, e já me basta assim. De maneira que o título deste escrito encontra, nesta minha incapacidade, a sua justificação.
E um bom ano para todos.
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