blog caliente.

4.10.06

Já agora

Já uma vez escrevi sobre isto, é um tema sem interesse nenhum, mas o olfacto é meu.
Todos os dias me penetra o consultório uma considerável quantidade de doentes. Ou utentes, como se chama agora a quem padece de mazelas: somos todos potencialmente ambas as coisas, marimbo-me para a nomenclatura (mas acrescento, já agora, que a nomenclatura é maliciosa, porque surgiu na presunção de duas coisas: que não se vai ao médico só porque se está doente, o que é uma falácia quase global, e que ser utente confere mais direitos do que ser doente; isto mereceria discussão, mas agora não estou para isso, não ligo aos revolucionários do detalhezinho pulha).
Metade deles, desses utentes, quando se descalça - e querem sempre descalçar-se, para não sujarem o papel da marquesa com os sapatos ou as botas - liberta para a atmosfera um fedor sem tempo. Um fedor que nos faz imaginar que aquelas peúgas ali expostas e exalantes, em se libertando das grilhetas das pedaleiras carentes de água e sabão rosa que as calçam, marchariam, se pudessem, sozinhas e apressadas, para o tanque, para o rio. Para a máquina de lavar, no caso de a haver.

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