blog caliente.

8.6.06

Prensas

Ainda está lá, no armazém grande, embora já se não faça lá vinho nenhum há quase vinte anos. Coisas do velho Douro e do novo.

A prensa é um espartilho de tábuas, que se aperta em torno daquilo que se quer espremer, para sair sumo. É uma espécie de compressor arcaico. Faz-se isso com as uvas. Ou fazia-se.

O meu falecido avô gabava-se (com proveito e com verdade, diga-se) de conseguir, depois de vários homens fortes desistirem, dizendo "ó senhor Custódio, já está, já não aperta mais!", dar mais uma volta à prensa. Dava sempre mais uma volta à prensa.

Era seco e muito forte, o meu avô; andou às sacas de café no Brasil e temos fotografias antigas em que ele aparecia seco, magro e alto, todo inteiro, elevando cinquenta quilos de café em cada mão, ambas as mãos bem ao lado da cabeça, longe dela.

Um dia, eu isto sei, porque ele contava, o meu pai viu, e conta muita gente, um dia ele apertou tanto que um "gato" saltou. Um "gato" é uma coisa de ferro que funciona como uma espécie de colchete dum espartilho. Só que pesa mais de um quilo, cada um. E é de ferro, em espartilho de tanoeiro.

O "gato" saltou e acertou-lhe na mão, com a violência das coisas tensas, fazendo-lhe uma ferida funda que ele desinfectou com o fogo dum cigarro. Conta quem viu que cheirava a carne grelhada em todos os lagares, quando ele fez isso. E que nem um ui lhe saiu da garganta, pelo menos que nos lagares se ouvisse.

A prensa era um excelente utensílio e é, ainda hoje, um excelente lugar comum para aplicarmos às coisas quase todas da vida.

Continua, a prensa, a ser um apetrecho que não se pode apertar demais.
E eu, para acabar, confesso que suporto mal que me metam em prensas. Eu não dou vinho nenhum, muito menos generoso. Dou outras coisas, penso eu. Contudo, muito prensado, nem isso gotejo.

Parabéns, miúdo, E tu sabes que é contigo.

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