blog caliente.

13.6.06

o problema do Wagner sem ser o Tiso

Hoje ouvi de tudo.

Há pessoas engraçadas, tão pataratas que conseguem estar pela Itália num jogo contra o Ghana, sem serem italianos ou vítimas de agressão por um bando de pretos. O segundo golo dos italianos, marcado por aquele tipo abominável de nariz comprido, que joga na hedionda Udinese, desencadeou tanta risota (e tanta tossiqueira asmatico-andradiana) pela sala que lá acabei por ter de me lembrar daquele clube que tem um nome giro, o Artemédia, o que empandeirou os Luchos.

Fiquei a saber que há pessoas que querem que a selecção ganhe (embora estejam sempre de dedinho em riste para apontar as razões que, mais tarde ou mais cedo - como são muitas as razões que apontam com o dedinho, lá acabarão por acertar em algumas - hão-de levá-la à derrota), mas que pretendem que a selecção faça isso, essa coisa de ganhar, maravilhando-as.

Se a selecção ganhar, em não as maravilhando, essas pessoas ficam logo um bocadinho chochas e aborrecidas. É uma coisa que já não lhes dá muito gozo. Esta fatia do eleitorado quer sempre que a mesma boquinha, sinultaneamente, lhes passe a pano o escroto e o falo. Ora, isto, só certas boquinhas conseguem. Boquinhas grandes. A menos que aquilo que se lá mete seja tudo muito pequenino, enfim, eu nem sei mais que vos diga, pronto.

Eu entendo-as.
As pessoas sentam-se a ver um jogo da selecção como quem se escarranchasse na poltrona, ou na espreguiçadeira, para escutar Brahms. Eu digo já que, de Wagner, não gosto. Wagner era um gozão de toscos espantados e nunca fez nada de jeito. As pessoas que gostam muito de Wagner são chalupas e aguardarão o juízo final de pantufas, com rolos no cabelo e algaliadas com sondas grossas pela uretra acima.

Pronto.

Portanto, toca o hino, toca Brahms, e essas pessoas lembram-se de coisas que "também". Divergem logo. O pensamento foge-lhes. Escapa-se-lhes. O corpo não, que é pesadote. Não há nada mais engraçado do que observar uma pessoa que raciocina em termos de "também", sobretudo se esperamos o suficiente para essa pessoa se alevantar da poltrona do seu raciocínio para "também" ir cagar.

Mas um jogo é um jogo. A maravilha dum jogo é ser um bocadinho aleatório e não ser assim uma coisa muito importante mas que, mesmo assim, nos empolga. Chama-se a isso "estar por alguém" ou "por alguma coisa". Não é estar pela verdade contra a mentira, pela sodomia selvagem contra a vaselinagem anal profiláctica, pelo sistema de quotas (cotas?) contra o espancamento público de Paulo Portas por doze eunucos. Eu, nisso, defeco.

Não é nada disso. É escolher por quem se está e, depois, estar. O contrário disto remete-nos para aquele tipo de população planetária que, perante os quartos traseiros da Sharon Stone, desata a cismar que a nádega esquerda da senhora é um bocadinho "não sei o quê e, também, não sei que mais".

Eu, quando oiço Brahms (que fabuloso compasso ternário, hem?), não o escuto contra ninguém, nem a favor de ninguém. Eu sei que só tenho acesso a gravações, que aquilo já está tocado, que saiu perfeito, que não há ali qualquer adversário.

Não há o caraças: há o Wagner.
E enquanto Wagner não for completamente apagado da memória de pessoas decentes é necessário mantermos bastante concentração competitiva.

Eu aconselho, a quem afirma que se quer maravilhar com a selecção nacional, umas férias no Egipto, a ver as pirâmides. Ou uma noite no motel Havai, sozinho, com um livro de muitas folhas para ler.

Desculpa isto tudo, lolita, faz de conta que eu tinha um blogue que fosse só meu, pronto.
Eu não torno.

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