E eu aqui, muitíssimo só
Interessa-me o sofrimento. Não estou a dizer que gosto dele, pelo contrário: detesto-o. Mas interessa-me. Porque me incomoda. É, por isso, o que mais me importa no caso dos rapazes que mataram, de forma bárbara, o sem-abrigo. Homeless is helpless, é bem verdade.Perante a barbárie, que é uma doença, podemos fazer como nas outras doenças. Podemos começar por indagar-lhe a etiologia, se a tiver; avançar-lhe pela patofisiologia, já aos bordos; dissecar-lhe o quadro clínico até à exaustão, num trabalho de paciência; estabelecer-lhe propostas terapêuticas, como se misturássemos essências; definir-lhe um prognóstico. E descansar, depois de tanta ciência, numas chinelas de ourelo, já de pata ao alto no canapé.
Também podemos olhar para ela e pegarmos-lhe, apenas, pelo "sofrimento que inflige". Podemos pensar "e se fosse eu?".
Mas é mais fodido, não é? Não nos compensa. É uma estupidez, claro.
O nosso potencial para sermos sacanas é imenso.
Deve ser por isso que há por aí imensos livros e compêndios, ensaios e filmografia - e teses! -(estão sempre a sair, às golfadas editoriais), cujo título é - sempre! - uma espécie de "Não fui eu!", a menos que o autor seja um bocado alternativo e prefira uma espécie de "Fui eu, mas assumo!".
Tudo obras com imensas edições, hei-de ir comprando (ou pedindo emprestado, o dinheiro não estica) a ver se aprendo mais disso tudo e sossego mais.
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