blog caliente.

10.1.06

Com clarim toca a lavar!

Geralmente, quando agradamos, olham-nos de frente, mexendo no cabelo, fazendo ondinhas, enquanto escrevemos de pálpebras em baixo, reparando nelas em raros vislumbres. De repente, levantamos o focinho, já de olhos fixos nos olhos delas, e elas disfarçam, seja num sorriso, seja num esgar qualquer, num último ajeitar de cabelo. Unem, geramente, mais as pernas. Isto é verdade.
Quando não agradamos não nos ligam nenhuma. Isto é geral, não adianta dizer mais nada. Não nos ligam e pronto.

Ela tinha chegado do Canadá, para vir ver o pai. Resolveu ir ver o médico do pai, também. Percebe-se: "quem trata de si, meu pai, que eu quero ver? é este!". Pronto.
Chegou armada de olho clínico e, logo ao assomar à porta, deparou-se-lhe o nosso Portugal aos molhos, como ela se lembrava: dia de feira, gente numa bicha e aquele odor indefinido a "estou doente e quem me trouxe também se lava pouco".
Eu vi-a, com o pai. Topei-a: "deve ser a filha". Tinha ar de filha, sobretudo. Trinta e tais, pai de sessenta e tantos, batia certo. Não me alongo mais, que eu tenho só a altura que tenho, ela tinha ar de filha. E era.

Fiz meia dúzia de consultas, vi umas análises, aquelas coisas que se fazem e se vêem (fiz duas mil consultas, no ano passado, a propósito, mas devem ser falsas, que há agora uma casta de médicos que se desdenham, desdenhando os outros: "ó! pah! ele não fez tantas!"; são os jovens lobos recessos das novas e mancas alcateias, os pidezinhos de si, os que levam um sopapo no peito e a culpa foi logo do árbitro e do barulho das luzes; análises, devo ter visto vinte mil, já agora), e chamei-o. Veio de filha. À frente. Eu já sabia, "qualquer dia vem a cavalaria e isto fino pia".

Agradei-lhe. Vi isso, logo. Podem dizer que "ah! lá está este a confabular!". Não estou. Para já, não sei palavras difíceis. Depois, ela mexeu-se daquela maneira engraçada de quem começa a sentir-se confortável. Eu sei que, ao entrar ali, no meu consultório, ela abandonara a feira. Ou seja, podia estar, apenas, aliviada. Eu sei que o pai dela se me dirigiu com um abraço, imediato e longo, que pode tê-la predisposto a pensar de mim "olha, que bem!". Mas também sei, certeiramente, por outro lado, que não me barbeio todos os dias. E que não uso, sequer, gravata (recentemente, nem em casamentos e baptizados, a sério, já me deixam ir sem guardanapo enfeitado ao dependuro da pescoceira!), como os médicos a sério.

De maneira que decidi que lhe agradei; decidi eu, pronto. E já encontrei, mesmo, resposta para isso. Sou muito lavadinho. E as canadianas, mesmo as migratórias, apreciam a limpeza.

View blog authority