blog caliente.

18.9.05

Uma coisa a concordar com a lolita. Mas.

Como a lolita há-de ter dado conta, eu afirmei que não existe um eleitorado do centro. Há é um conjunto significativo de pessoas que vota punitivamente, alternativamente, consoante a ressaca e o clima, ou (preferencialmente), ao calhas. Se está no centro não sei. E, a estar, também não se percebe no centro de quê. Andam aí, isso sei.

Tentar cativar o eleitorado do centro é uma tarefa ridícula. Refiro-me a este eleitorado "do centro", o tal que circula entre humores. E refiro-me, claro, às eleições presidenciais.

Eu conheço pessoas que, de manhã, se acordarem ao som duma certa reportagem na TSF, sobre mulheres que se esvaíram em sangue e sepsis por terem abortado em pardieiros, são a favor da interrupção voluntária da gravidez até aos dezoito anos de idade do "feto". Meia hora depois, escutando (e pode ser na mesma estação) uma abencerragem qualquer que relata a triste história dum feto que se cumpriu, chorosamente e contra a vontade dos sacanas dos pais, transformando-se, mais tarde, em génio (mesmo sem turbante), apetece-lhes logo uma manifestação "pela vida", estando elas à frente. E se, à noite, virem um portador de trissomia 21 a espancar um puto loirito, querem matá-lo (ao mongolóide) com requintes. Chorando a seguir, novamente pró-vida à força toda, se assistirem, antes do soninho reparador, a um programa moderado por uma dessas senhoras e senhores que ganham bom dinheiro para fazerem dos directos informativos um "show formatador de consciências", em que se mostrem mongoloides abraçados a pais e mães que os querem muito.

O eleitorado do "centro" é este. É formatado, formatável, não se conta com ele. Há-de vir, se tiver de vir.
Mas não se pode perder eleitorado de esquerda, se se é de esquerda (nem de direita, se se é de direita) para satisfazer o que quer esta corja de imbecis que, se repararem bem, não sabe o que quer. Quer sol na eira e chuva no nabal, fundamentalmente.
Esta gente realiza-se, fundamentalmente, em meios pequenos, nas eleições autárquicas. Num meio pequeno, o barbeiro, o canalizador, o cura, o advogado, o médico, o empreiteiro e o alfaiate são importantes. Podem ser influentes. Noutro contexto, não.

Repito: falo aqui, agora, de eleições autárquicas. Aqui, é troca directa, os indecisos funcionam melhor. São mais precisos. Pobres políticos de província, que necessitam desta gente para pagar a broa.
Fora deste contexto, é cagar neles: eles que venham, se quiserem. Não se pode perder é a credibilidade, nem vergar a coluna, pelo sufrágio dum milhão de cataventozinhos.

Quanto ao Bloco, lolita, parece-me que exageramos. O Bloco tem eleitorado próprio. Deve ser cerca de metade do que julga que tem. Mas tem.
Mas também te digo, concordando uma vez mais contigo: ter eleitorado fixo é duma cupidez repugnante. Isto não é a Liga de Futebol, é um País que é suposto ter gente a pensar todos os dias.
Por falar nisso, o teu Porto empatou, azar.

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