Os putos
Inquietante, por já parecer eternamente circular. Regressamos à discussão de saber se se despenaliza ou não o aborto, afundados numa obsolescência embaraçosa alimentada por estrategas da demagogia, daqueles que ostentam a sabedoria, que nem sua é, ainda que fosse sabedoria, encavalitada nas ondinhas capilares. Pois, continuamos obsoletos, não porque no resto da Europa já ninguém discute há décadas se se despenaliza o aborto, mas antes porque resistimos, pela indolência e pela inconsciência da cidadania, a discutir o indiscutível, porque ninguém pode discutir o destino a dar à vida de quem já vive e, sobretudo, porque ninguém faz sacrifícios por ninguém, ainda que esse sacrifício pareça nobre aos outros, se não o fizer porque quer, porque convictamente quer. Gerar uma vida, também por respeito à sua criação, é um acto, ainda que não premeditado, de amor por quem gera e por quem nasce; nunca será, nem por decreto, uma conformidade com um acto circunstancial que involuntaria e incidentalmente a gera. Os Nunos Melos, os das ondinhas capilares e camisinhas alinhadas, disto nada sabem nem nunca saberão por muito que busquem no fundo da sua profunda incultura humanística, entretidos que estão a enfeitar a própria e vaidosinha casca de políticos de brincar às casinhas. Se a justiça humana fosse feita mais de transparências do que de compromissos, estes homenzinhos, que seriam transparentes, não seriam tidos nem achados na discussão de coisas a sério. Fariam surf e seriam admirados pelas namoradas por serem ladinos e frescos. Até eles sairiam claramente beneficiados.
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