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29.9.05

Ordinary people

Ordinary é uma palavra traiçoeira, quando vertida.
Não quer dizer "ordinária/o", não quer dizer "vulgar". Quer dizer todo um presente do indicativo do verbo "eu". É um verbo, "eu". É como "nós", "nós" é um verbo. Pelo menos conjuga-se. Vamo-lo conjugando conforme podemos.

Não. Ordinary também não quer dizer "vulgar".
É engraçado. Nós, portugueses, cismamos que a palavra "saudade" é só nossa, da lusofonia, da luso-alma. E não é. Os franceses têm o "chagrin", que é a nossa saudade, mais coisa menos coisa. E há mais exemplos, mas não tenho tempo agora.
Ordinary é uma espécie de saudade, do ponto de vista do dicionário: dá para tudo, mas não pode dar para achincalhar com sinónimos rápidos.

A lolita escreveu sobre o sistema métrico do sofrimento, quase desiludidamente. E definiu a unidade de medida: somos nós, no fundo. Por isso escreveu naquele tom desiludido de quem quereria, sempre, um sofrimento grandioso. Significativo de si, de nós, isto.
Não é possível, é empresa demasiado escarpada, um monte grande. E a lolita, que é uma mulher de carácter, sabe muito bem que o sofrimento é banal, é "ordinary". As pessoas que sofrem é que não. E por isso é que ordinary, aplicado a pessoas, não quer dizer senão ... saudade. Sort of. E aplicado a tudo o resto pode ser "vulgar", mesmo.

Se a lolita, que conheço bem, pensar nas pessoas que sofrem e que ela conhece (e ela conhece as pessoas e o seu sofrimento) verá que se encontra muito mais bem rodeada, no seu dia-a-dia, do que ela cuida estar. E, acima de tudo, muito mais "cuidadora" do que se cuida.

Mas isto é ela a querer mimos. E merece-os, que ela tende sempre a medir-se por baixo (o Porto perdeu, e tal... aligeiremos...), querida amiga tontinha, inteligente e íntegra como mais ninguém.

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