blog caliente.

23.7.05

Compotas

Gosford Park, revi. Enfim, só tinha visto dois terços. Gostei outra vez.
É assim:
Numa casa cujo andar de cima está cheio de gente que se preocupa com compotas, foder e dinheiro, os criados vivem no andar de baixo.
No andar de baixo, pelo contrário, os criados preocupam-se com dinheiro, compotas e foder.
Há as escadas, pelo meio. Claro.

Desta trama difícil e elaborada nasce um jogo de contrastes entre os do andar de baixo e os do andar de cima, sobretudo por causa duma gorda do andar de baixo que adora fumar e ir para lavandarias abrir as pernas a tipos do andar de cima. Nasce isto, o tal jogo de contrastes, e sanciona-se a recordação de coisas antigas que são sempre iguais.
Pelo meio, morre um gordo velho do andar de cima, que tinha um cão odioso e uma cadela velha que sustentava. Ambos lhe sobrevivem, o que é fundamental. Não tinha mais nada, o pedaço de víscera, nem a mulher era dele. Dele, mesmo, eram só o cão e a velha.

Moral da história: compotas, fundamentalmente compotas.
E a cor é muito bonita. Sobretudo no dia da chegada, quando chovia a potes.



Aditamento matinal, depois de má surpresa:
É evidente que o filme não é nada disto, a vida também não. Não percebo nada de cinema, nem da vida. E cada notícia má que me chega, seja eu a procurá-la (porque pergunto), seja ela a procurar-me a mim, de surpresa, faz abanar tanto as poucas certezas que ainda vou mantendo dependuradas de mim, que elas vão caindo, uma a uma, como se fossem pêssegos podres. E é nestas alturas que, relendo coisas que escrevi, me apetece apagá-las todas. Como esta, que escrevi à noite e reli de manhã e, à luz do sol que hoje me alumia o dia tristonho, me parece ridícula e inútil. Não apago, mas apetecia-me.

View blog authority