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20.7.05

Regras

Aqui há uns dias, numa conversa ténue, confirmei o que já sabia. Há pessoas que têm uma noção tão hierarquizada das relações interpessoais que estranham qualquer relação que, nem que seja fugazmente, tenha instantes de nivelamento inoportuno. Daqueles momentos não escolhidos de "olhos nos olhos, muito bem, mas quem está por cima, afinal de contas?".
Falo do trabalho, claro.

Quando se tenta manter um espaço aberto, de acesso fácil, sem mediadores (porque não os há, sequer), esse espaço tende, facilmente, para o caos do incómodo constante. Estou a lembrar-me do serviço onde trabalho, que começa a assumir contornos de serviço de urgência (ou seja, com "atendimento não programado") pela facilidade de acesso que encorajamos. É nessa mistura de precisões e servidões que os olhos se cruzam mais vezes, a direito.

A questão, no fundo, são duas.
1 - Como conseguir manter as coisas assim, abertas, sem deixar que essa abertura transforme um espaço que se pretende de privilégio alheio, no "terror" da urgência geral, onde cai tudo, quase ao calhas, pelos motivos mais certeiros ou disparatados?
2 - Como conseguir fazer passar uma ideia que, num queixume, num mero desabafo, parece que negamos? Pois. É isso mesmo. Queremos que as coisas sejam assim, fazemos com que sejam assim, metemos a cabeça para aí e, depois, ao tentar meter o corpo todo, acaba por nos custar. Isto é o menos. Acontece é isto, muitas vezes: se, numa conversa qualquer, uma daquelas que temos com quem julgamos que vai tentar entender o que estamos a dizer, acabamos por nos queixar, por manifestar uma lamúria pequena sobre o que nos custa a maneira como fazemos as coisas, há interlocutores que nem sequer querem saber de nos dizer "isso custa-te, mas está bem assim, percebo-te, aguenta-te à bronca que vais bem". Não. Perguntam logo é se "não és tu que mandas? então?".

A questão, pois, "são estas duas". Porque as coloco eu, claro, só por isso é que são estas duas, que eu vivo para dentro e para fora.
E, muitas vezes, para fora, não vejo quase nada.
Quero eu dizer, com isto, que nem sequer vejo um sinalzinho, um sorriso breve de "vais bem, apesar de tudo". Só regras de conduta. Isso vejo. Estão sempre a acenar-me, severas de certeiras.

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