A estupidez é malvada.Ou a malvadez é estúpida.
Conheço uma pessoa que, profundamente aliviada e feliz por ter sido dada como curada de uma grave doença, tratou de espalhar a sua felicidade sem critério nem selecção. Tarde percebeu que errou, sem conseguir evitar que um espírito franzino lhe assediasse a felicidade: "ó minha amiga! olha que disseram o mesmo à minha prima e ela morreu três meses depois!".Pois. Isto é tão certo como a noite após o dia. Há bruxas neste mundo. Há quem acredite em anjos da guarda, mas isso é mera crença; mas bruxas há. Se há. Não é crença.
As bruxas, não nos confundamos, não escolhem sexo, estatuto ou profissão. Em comum, têm duas características: a franzina capacidade intelectual e a consequente incapacidade de conceber, com recursos próprios, qualquer estratégia, por pequena que seja, para melhorar a sua própria vidinha. Crescem e amadurecem, por isso, sem contribuição própria. Imitam, palidamente, comportamentos e vidas alheias, falhas de risco e de sabor. Não arriscam, porque o risco não lhes serve. Não sabem usá-lo. Não modificam, não criam, não inovam. Apenas vegetam. Revoltadas com o seu próprio atavismo, no passo seguinte estão revoltadas com o mundo, que é um mundo à parte. O mundo passa a ser inimigo.
O problema, está bom de ver, é que as bruxas são nocivas como lixo tóxico. Agravado, esse problema, pelo facto de que, de um ponto de vista estatístico, ninguém escapa à convivência, inevitavelmente forçada, com pelo menos uma bruxa. Mas, para mal de todos nós, há sempre mais do que uma por perto.
Tristes criaturas, que tentam minar as estratégias alheias. As que escapam à sua pusilanimidade. As que lhes suscitam cobiça. As que, de tão límpidas, puras e forçosas, as irritam. Não toleram o querer empreendedor dos outros, que, por isso, se empenham em travar, lançando, em sussurros malvados, as sementes da dúvida, da culpa, do dilema.
Mas, cuidado. As bruxas disfarçam-se, as mais das vezes, de bons amigos ou de conselheiros desinteressados. De cínicos sapientes dos desaires da vida, desencantados e descrentes de finais felizes. E aparentam, aos mais incautos, sensatez e ponderação. Ajuda desinteressada.
A história da filosofia coincide, muitas vezes, com a história da religião. E ambas explicam a existência do mal, disfarçado de bem. Falam de bruxas, no fundo. O rabudo, diz-se, disfarça-se frequentemente de anjo e todos aprendemos (no humanismo laico ou no religioso) que é espinhoso, o caminho rumo ao bem.
Mas os espinhos sacodem-se, simplesmente. Sempre caminhando.
<< Home