Sacos de plástico
1 - Santana Lopes não comenta. Ele pressente estrondosa vitória eleitoral e, como a pressente, já adoptou o ar distante e displicente dos vencedores. Dispensa comentar o episódio Cavaco como quem dispensa sacos de plástico e restante fancaria. Nota-se que o homem está calmo e confiante. Faz-me lembrar a atitude de Maradona em frente de Ivkovic, em Nápoles. Gosto de ver este tipo de artista, antes do penalty. E depois também.2 - Portas resolveu revisitar os mercados e, mais que isso, visita-os agora de surpresa. Aparentemente, não avisa ninguém. Vai ele, vão outros quaisquer com ele, e a televisão lá aparece, já no fim, corada do esforço desta corrida esgalgada atrás deste homem humilde, sincero e bom, que se esforça por fazer uma campanha discreta, quase a fugir dos olhares impudicos, todo ele baseado na influente sugestão eleitoral dos sacos de plástico. É uma diferença notória, esta: sacos sim, sacos não. Aliás, na linha das semelhanças estruturais dos nossos actuais parceiros de coligação governamental, hem? Tudo os une, nada nos divide, aqui. Hem? Pois.
Tudo isto, a ver se consegue o que seu estro almeja: dois dígitos. Ora, por dois dígitos, bem vistas as coisas... merece um dezanove. É um bom número, dois algarismos perfeitos para o promissor calvo das feiras, que só não consegue disfarçar seu almejar. Posto a almejar, almeja tão abundantemente que lhe escorre baba pelo canto dos olhos. Os olhos fazem parte do tubo digestivo, come-se com os olhos, mas em certas pessoas nota-se mais. Claro, é mais difícil disfarçar a falta de trunfa, mas isso (a falta de trunfa) até o favorece: o perfil adunco como que se adensa, prolongado na testa ampla de pensador discreto de si que o homem tem.
3 - Alberto João, despenteado pelo vento, sempre com aquele olhar iluminado pelos holofotes que lhe vêm das profundezas neuronais, anda a ver se arranja maneira de Morais Sarmento ou, mesmo, um qualquer Arnaud, serem os potenciais candidatos do PSD às presidenciais. Hoje, arremessou mais uma pedra a Cavaco, em lugar de lhe dar algum espaço e um silêncio inteligente.
Fez isto ao único candidato potencialmente vitorioso do partido que (ainda que lá da Madeira, aquilo que devíamos vender quanto antes) representa. Isto é uma estratégia suicida que nem sequer me atrevo a comentar. Refiro-a como uma curiosidade estrutural de um grupo de gente que se encontra tão baralhada por questões de feiras, dígitos, parcerias potenciais e antagonismos viscerais, que não consegue um único movimento que pareça concertado ou consequente.
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