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3.6.04

Maternidade afasta mulheres dos serviços

A. Tal como a lolita não pude ficar indiferente á entrevista do Prof Sousa Pereira no jornal o Público, relativamente ao aumento da prevalência de mulheres nos cursos superiores, concretamente em Medicina. Conheço muito bem o Prof Sousa Pereira, de quem sou colega (mais velho) de faculdade e amigo. Homem frontal, de inteligência rara, com percurso académico brilhante, o Prof Sousa Pereira veio, recentemente, abordar com clareza e frontalidade notáveis, o problema das Faculdades de Medicina - rebatendo com elegância e inteligência, a demagogia barata que se teima em fazer passar nos media em geral, relativamente ás novas faculdades privadas e públicas, nomeadamente as que querem incluir o ensino da Medicina nos seus "packs" formativos. Tenho-o em consideração de tal forma, que o julgo incapaz de proferir declarações como as que li, supostamente da sua autoria. Esta coisa de quotas para homens e mulheres nas faculdades de Medicina é, do meu ponto de vista, um perfeito disparate. Julgo-o demasiado inteligente para, atribuir ás suas declarações, um sentido tão perjorativo.

B. Curiosamente, nos últimos tempos têm-se falado muito sobre mulheres, a diversos níveis: nas declarações do nosso PM no Congresso de O Azemeis, quando apelava demagógicamentes á "participação crescente das mulheres na sociedade civil"; ciclica e inevitávelmente na campanha eleitoral a propósito das quotas de mulheres nos lugares políticos; e agora nas quotas para cursos de medicina.
Esta coisa das quotas / direitos das mulheres já me irrita solenemente: no início do século XXI, julgo que a civilização ocidental já interiorizou que as mulheres têm e devem ter os mesmos direitos que os homens. E pronto não se fala mais no assunto, que até já cheira mal. Na lógica da defesa de sociedade aberta, pluralista, democrática defendo extinção de conceitos "á priori" marginalizantes como o dia da mulher, o dia do deficiente, e outros que tais. Nesse contexto, justificar-se-iam dias de homenagem a minorias / sectores marginalizados da sociedade como: o dia do trabalhador honesto, dia do político integro, dia do aluno aplicado, do funcionário cumpridor, dia do heterossexual (um pouco de humor não faz mal - digo eu...) por exemplo.

C. Na minha cabeça não faz hoje sentido apelar aos direitos da mulher. Por isso acho disparatado entender-se que elas, coitadas, não têm biologia compatível com a possibilidade de serem excelentes urologistas, cirurgiãs, ortopedistas, etc. A minha vida profissional está cheia de mulheres, e não vejo qualquer mal nisso. A minha experiência, diz-me que são tão boas ou melhores profissionais que os homens. Desde de devidamente motivadas ! Contudo, e continuando a revelar-vos a minha experiência pessoal, asseguro-vos que é muito mais difícil gerir, organizar, planear, implementar projectos num serviço que seja constituído predominantemente por mulheres. É mais fácil trabalhar com homens - muito menos complicados, com formas de comunicação e gestão de conflitos e de interesses mais fluidos e transparentes.

D. Tenho experiência sobre médicas que foram prejudicadas na sua carreira profissional, por questões de maternidade. Nos casos que conheço (muito poucos, felizmente), os respectivos directores de serviço, aproveitaram-se das circunstâncias da maternidade, para marginalizarem ou prejudicarem as pessoas em causa. Não foi, seguramente, por questões biológicas. O artigo fala em períodos prolongados de ausências, prejuízos nas carreiras etc. A propósito disso, nunca vi até agora, nenhuma organização reclamar igualdade de direitos e de oportunidades relativamente ao famigerado Serviço Militar Obrigatório. No meu caso, por servir o meu país, foram dois anos de carreira profissional "ás urtigas" - com prejuízos evidentes relativamente a mulheres, e pseudo-objectores de consciência.

E. Se daqui a alguns anos vamos ter a medicina entregue ás mulheres, tudo bem: é porque são mais capazes, mais inteligentes e dotadas para o exercício dessas funções. Não vejo qualquer problema nisso. E se esse fenómeno for extensivo a toda a sociedade produtiva, porque não ? Impor-se-á uma reflexão: nós homens temos que estudar mais que elas, temos de ser mais trabalhadores, mais organizados, deperdiçarmos menos energias em coisas fúteis como por exemplo: falarmos menos de futebol, banirmos definitivamente o sporting do nosso intelecto (acto verdadeiramente purificador), não comprarmos o jornal o Jogo, nem ouvirmos declarações do V Baia, nem do Mourinho (ar, sério, olhar para o infinito, fala com a boca semicerrada), por exemplo. Não ingerir bebidas alcoólicas, clarifica a memória e apura os sentidos, é outra das atitudes bem recomendada. E, finalmente, banir o tabaco para que, com uma boca bem atraente, beijarmos com paixão a mulher que amamos...

F. E se calhar o mundo dominado por mulheres, vai ser um mundo bem melhor! Venha ele !

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