Propofol - informação técnica
Uma das maiores preocupações na sedação (sobretudo em Unidades Cuidados Intensivos) foi a possibilidade de titulação fácil do nível de sedação. Trata-se de um fármaco de propriedades únicas, de semivida plasmática muito curta, o que permite obter nível de sedação rápido (30 segundos)e eficaz com desmame da droga também a ser muito rápido e sem efeitos cumulativos aparentes. O propofol foi utilizado como agente de indução e manutenção anestésica, com introdução clínica a partir do final dos anos 80, e é hoje um fármaco de utilização generalizada principalmente em anestesiologia, e em cuidados intensivos. Na verdade é um fármaco espantoso! É uma molecula simples (2,6-diisopropilfenol) de solubilidade lipidica elevada, o que lhe permite atravessar a barreira hemato-encefálica e, por isso ter uma acção sobre o sistema nervoso central muito rápida e eficaz. É preparado em meio lipidico (as primeiras formulações disponíveis tinham LCT - lipidos de cadeia longa, hoje as fórmulas actuais têm mistura LCT-MCT - lipidos de cadeia longa e média - o que lhes dá vantagem em ter melhor estabilidade plasmática, muito menor dor no local da injecção, e constituir mistura lipidica mais nutritiva). Em bolus o propofol diminui a pressão arterial, devido a uma combinação de vasodilatação com depressão miocárdica. Há diminuição da frequencia cardíaca o que torna atractiva a sua utilização nos doentes com doença coronária (por < trabalho cardíaco), cujo mecanismo se atribui ao aumento da actividade vagal. Pode por isso, quando associada a drogas em que existe estimulação vagotónica (exemplo: opiáceos tipo fentanil)ocorrer efeito sinérgico com bradicardia extrema e mesmo assistolia com paragem cardíaca. Outros efeitos colaterais: urina esverdeada, desinibição, sensação de bem estar, hipertrigliceridemia, embolização gorda, hipotensão grave, etc.Trata-se de um dos fármacos mais utilizados em anestesia e cuidados intensivos, dos tais que todo o anestesista e intensivista têm obrigação de "dominar" por completo (manuseio). Algumas da aplicações muito importantes na prática clinica em medicina intensiva (para além da anestesia - bloco operatório):
- Sedação controlada
- Efeito citoprotector cerebral com aplicabilidade em doentes com patologia neurológica grave como traumatismos cranio-encefálicos, doenças com hipertensão intracraneana, etc.
- Antiepiléptico potente - estado de mal epiléptico
- Broncodilatador - sedação em doentes com estados de mal asmático
- Quadros de agitação psicomotora grave (ex alguns sindromes de privação alcoólica desta região...)
Diria que, como todos os fármacos, tem prós e contras. Mas é, efectivamente, uma droga a todos os títulos espantosa para ser utilizada por quem sabe, como é obvio em medicina. Exige monitorização adequada do doente, disponibilidade de fármacos para o tratamento de efeitos secundários graves (atropina para > freq cardíaca por ex, adrenalina e outros), e exige ao operador capacidade técnica de permeabilizar rápidamente via aérea, e capacidade de efectuar medidas de suporte avançado de funções vitais. "Skill" que todo o anestesista e intensivista têm obrigatóriamente que ter.
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