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15.4.04

Propofol - genéricos

Numa linguagem com rigor científico, dizer que o fármaco X é menos eficaz que o Y, significa que se fizeram estudos prospectivos, randomizados (e bem !), duplamente cegos, multicentricos, homogéneos, com amostras de doentes significativas estatísticamente, com resultados que não deixam margem para dúvidas: há neste e em outros estudos semelhantes, evidência de que... o fármaco X etc. E por aí adiante. Neste contexto, na nossa prática clinica, este nível de evidência não é possível, porque não temos capacidade, know-how, nem tempo de efectuar esses estudos e, assim, obter um forte nível de evidência. O que temos é que ter poder de observação, oriunda essencialmente da nossa prática clinica diária. O que nos leva a dizer muitas vezes: "o fármaco A parece melhor que o B". Todos nós médicos, sabemos a diferença entre a potencia de acção ou eficácia entre o Lasix e o Naqua - produtos de laboratorios diferentes para a mesma substância - furosemide (potente diurético). - Ó sra Enfª dê 10 mg de furosemide ao sr x ! Qual sr dr, lasix, lasix ? ou outra qualquer ? - Isto é uma situação que se repete diáriamente nos hospitais, tal é a evidência da diferença de actuação terapêutica. E sobre estes produtos nunca vi / li nehum trabalho escrito científicamente sério a apontar diferenças farmacológicas - farmacocinéticas. Mas que existem, existem - que las ay, las ay !

Desde há alguns anos (poucos) a esta parte, nós médicos, prescrevemos o principio activo de um produto (sedativos, antibióticos, diuréticos, aminas, por exemplo) a um doente, venos serem administrados produtos genéricos aos nossos doentes (é a mesma substância activa, a mesma dose, com laboratórios que nem conheço) e percebemos na prática clínica que o efeito terapêutico é incomparavelmente menor. Na minha experiência os exemplos são inúmeros. Para o mesmo príncipio activo, e para o mesmo objectivo terapêutico, em doentes com patologias semelhantes e pesos idênticos, as doses que hoje utilizamos são muito maiores. Como se controla isto, quem controla a qualidade ? Supostamente o Infarmed, entidade reguladora do bom nome e da qualidade de todos os produtos terapêuticos. E portanto, todos os produtos que vêm das farmácias hospitalares têm o selo de garantia de qualidade. Só que o lasix 20mg (furosemide) é mais potente que o aquedux 20 mg (furosemide). E ninguém nos explica a nós médicos porque é que isto acontece. E nós médicos como alertamos estas situações. Dizemos: "acho que este é mais eficaz que aquele ?" com que evidência científica ? Eu próprio já alertei a farmácia hospitalar em algumas situações, e há também o registo / sistema de alerta do proprio infarmed! que não sei se é eficaz ou não, e se calhar, devíamos enviar-lhes sistemáticamente as nossas experiências sobre esta matéria. Só para dizer que, nós médicos, devíamos ser talvez mais interventivos sobre estas questões - embora potencialmente ridicularizáveis científicamente pela tutela / infarmed, e aproveitarmos as nossas reuniões científicas para trocarmos experiências concretas, desenhar e efectuar estudos científicamente sérios, multicêntricos, sobre todas estas questões.

O caso de Lagos, porque estamos em Portugal, temos as TV's que temos, os jornalistas que temos, poder-se-á rotular de um caso onde é (até me assusto quando a pronuncio) TMC (tudo muito complicado). O nível de informação que disponho sobre o assunto é igual ao disponível pela TVI - o que é francamente mau, para quem deve opinar sobre ele!

- Sobre questões técnicas relativas ao acto anestésico não me pronuncio. Não há informação adequada.
- Sobre o propofol já me referi a algumas das suas aplicações. Nem sei se foi utilizado nos doentes em causa! Parece ter sido a TV que veiculou essa informação ! A imprensa também disse, em tempos muito recentes, que a pobre da Elsa Raposo (com oculos de sol escuro, ar desolado) sofria de um TUMOR. No número seguinte da revista, já com a criatura em fato de banho nas areias do Brasil (onde por mero acaso foi descoberta...) se dizia que afinal o TUMOR era benigno, um MIOMA do útero - perdoem-lhe todas as mulheres portuguesas (milhares e milhares) que têm banais miomas uterinos.
- Sobre os genéricos, acredito que em matéria de composição quimica, efeitos secundários de fármacos de utilização tradicional / corrente como o propofol, está quase tudo por se saber, sobretudo em termos de efeitos colaterais ou, como dizia o meu pai, "que mixordias" são !

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