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5.10.03

Palavras de honra

Pacheco Pereira remete-nos para a “palavra de honra” no caso da filha do ministro. Proferida por engravatados balofos em pose ministerial, que é a melhor descrição que eu consigo fazer do ministro Martins da Cruz em tempo de juramento, a palavra não tem honra adicional. Tem a honra que tem. A mesma honra que qualquer palavra, a minha, a sua, a de qualquer um que se ajuramente. Tem honra.

Mas não tem mais honra que nenhuma outra. Vale, para mim, tanto como vale a palavra de honra de Carlos Cruz quando asseverou não ser pedófilo, entre outras palavras de honra que se ouvem, se proferem, se dirimem. Se respeitam. Se acreditam. Ou não. A honra anda por baixo, por se banalizar em comentários televisivos de ocasião.

Eu gosto de palavras de honra. Mas parece-me que Pacheco Pereira não gosta tanto delas como isso, para as apoucar assim, em horário nobre, de forma descuidada. A palavra de honra é uma coisa antiga, de apertos de mão e de “olhos nos olhos”. Não é uma facécia que se esgrima entre correligionários e se diminua em pequenas crenças de quermesse política. É uma palavra de honra, valha-nos Deus! Não é para utilizar de forma argumentativa (e absoluta!) em casos de cunhas. Cunhas essas que nem discuto. Nem sequer discuto cunhas, que eu sou amigo dos meus amigos. Vejam se entendem! O ministro, ele próprio ou por interposto familiar, meteu uma cunha, que o Pedro Lynce, ou alguém do seu staff, humanamente correu a satisfazer. Isto é a vida, senhores! Não nos condenemos condenando outros que fizeram o que nós faríamos. Eventualmente.

Pacheco Pereira vale, apenas, neste caso, como arauto destrutivo dum valor ( a palavra de honra) que ninguém questionou. Como se adiantou assim, a destempo e a despropósito, parece tentar fazer de “biombo”. Um biombo cada vez menos credível. Palavra de honra. Um biombo chinês. Vai-lhe bem à cútis, e mal ao tempo.

Preferi, duma forma ligeira, ouvir o Professor Marcelo, que meteu os pés pelas mãos, como Scapin sempre fez em palcos sucessivos. Oscilando entre defender o indefensável e condenar o óbvio. Como se fossem coisas diferentes, que não são. O óbvio e o indefensável são o mesmo, neste caso. Glorificou a demissão do “não culpado número um” por uma questão de caridade política malandreca. Glorificou a não demissão do “não culpado número dois” por uma questão que, por muito que lhe custe, o aproxima, malandrecamente, de Pacheco Pereira.

Há honras que estes dois seres sábios e cultos respeitam mais que outras. As dos amigos. Ah! Cidadãos comuns de nariz empinado por ciências difíceis! Então sois assim, tão “iguales a nosotros? Pues....Que lastima!”.

Cunhas. Favorecimentos. Que andaram estes dois sábios inteligentes (mas pouco esbeltos, ambos, e pouco credíveis, os dois, desculpem) a fazer no seu comentário político de hoje? A atirar chumbadas ao lado do prato que se lhes lançou de maneira desportiva. A complicar o óbvio. A engrandecer o torpe.

Não é favorecer os amigos que é torpe. É tentar encontrar razões mais fundas para o óbvio, que o óbvio é favorecer os amigos. Obviamente que gostar mais dos amigos é normal, bolas. Não devia, sequer, acarretar demissões e justificações adicionais. Entendamo-nos.


Ferro Rodrigues, mais uma vez, esteve bem. Está bem muitas vezes, este homem. Mesmo que ninguém mais lho reconheça, reconheço eu. E, queiram ou não, é mais esbelto que os outros dois, meros (embora brilhantes) papagaios do regime, do sistema, da brincadeirita. Ora olhem bem. Com olhos de ver.

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