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13.10.03

O detestável fundamentalista

Sou fumadora. Eu sei, eu própria tenho a sensação de que ultimamente só escrevo sobre as "luzes" que, nos últimos dias, tenho visto e que me fizeram pensar - pensar mesmo - sobre uma série de hábitos, rotinas e ví­cios. Neste momento, estou possuída da verdade irrefutável de que fumar faz mal. Fumar faz muito mal. Isto é óbvio, porém eu estou mais consciente disso agora do que dantes.

O passo seguinte das minhas reflexões levou-me a averiguar qual o meu comportamento moral sobre o acto de fumar. Como todos os fumadores viciados, odeio fundamentalismos anti-tabágicos. E esse ódio é feito, confessemos, da culpa de fumar-porque-faz-mal e da busca de um destinatário (o detestável fundamentalista) em quem depositemos a raiva que sentimos de nós próprios porque fumamos descontroladamente. E atinge-se essa paz de espírito que nos chega da percepção de que somos mais livres e auto-determinados do que o detestável fundamentalista que nos censura. Quando, na verdade, somos mais prisioneiros do que antes.

Voltemos ao comportamento moral dos fumadores. Neste momento, porque fumar - muito - fez-me mal e porque fumar faz, efectivamente, mal e porque fumar mata mesmo, bolas, estou também convencida de que é pelo menos tão detestável como o obcecado anti-tabagista a boçalidade ostensiva de quem fuma com o orgulho agressivo de mostrar aos bacocos do outro lado da barricada que se é descondicionadamente livre quando, na verdade, não se o é.

Por minha causa (repare-se, só por minha causa), estou fumar muito pouco. Sem guerras de alecrim e manjerona, como a do Homem que foi jantar no Sábado à noite com um fanático, à frente de quem fumou cinco cigarros. Sejamos elegantes e contidos, sobretudo a fumar.

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