Esguichos de besugo (há disto?)
Já me maça esta história, dissecada como se a vida fosse um teatro anatómico, do aproveitamento (ainda por cima estúpido, “pensado com os pés”, excelente juizo de valor sobre cabeça alheia, senhor professor Marcelo!) que o PS quis ou quer fazer da libertação do Dr. Paulo Pedroso. E, tendo querido fazê-lo, como o fez tão mal. Que preocupação, Deus meu, que esforço dantesco se está a fazer para explicar isto a Portugal inteiro!Do que ouvi hoje, apenas um dado me foi novo. Eu não sabia (a minha vida não é esta, pronto, e muitas vezes falo de ciência inexacta, mas também não tinha dito nada sobre o regresso do deputado às lides da deputação, por isso...) daquele “falsete” de o homem não querer assumir cargos partidários mas achar que pode assumir o seu lugar no Parlamento. De facto, aqui, caramba... andaram pés a chafurdar no encéfalo. Como, aliás, quando foi pedida a demissão do outro PP, o do PP, que eu já admiti que não acho ser flor que se cheire, mas a minha perspicácia emocional embate na lógica irredutível do professor Marcelo: “dois pesos, duas medidas, então e os princípios?”. Touché, eu não tinha pensado nisto assim. E sei muito bem que, ao escrever de esguicho, não tenho razão tantas vezes como queria.
No entanto, quanto à festa do reencontro, mantenho que os paralelismos entre a libertação (foi uma libertação, ele estava preso e deixou de estar, não foi?) do ainda arguido Paulo Pedroso e as libertações dos presos políticos em 1974 são um excesso de “moscas no formol” nos teatros anatómicos que vão sendo algumas cabeças pensantes de Portugal.
Quem fez a cobertura da libertação de Paulo Pedroso não foi o aparelho do PS. O aparelho levou-o à Assembleia, ele deixou-se (ou quis) ir, as televisões entenderam dar cobertura a um reencontro de amigos. E a emoção pode fazer ganhar eleições, meus amigos, tomem nota disto. Nem 10% dos portugueses votam por motivos racionais, é com os pés, mesmo. Bom, pelo menos outros 10%. Os restantes 80% que votam fazem-no de acordo com a digestão e com o estado do tempo. Aprendam. Não devia ser assim? Mas é. Cavaco ganhou-as assim, às eleições, Mário Soares também. Portas nunca as ganhará, que só emociona (além da família) aquele rapaz loiro e de olhos azuis nostálgicos por detrás das lunetas, Guedes. Parece-me, posso estar enganado.
Mas, voltando atrás, a analogia é triste. Algumas pessoas nem percebem a maneira grave como apoucam a memória da libertação dos presos de Caxias com analogias destas. Não foi Ferro Rodrigues quem fez este paralelismo. Nem foi ele que encomendou a cobertura mediática da romaria. Foram as televisões do regime. E os comentadores que as televisões contratam para, sentadinhos bem dentro (bem dentro, repito, aconchegadinhos), parecer que falam como se estivessem a fazê-lo de fora. Que não estão.
Ora eu estou. Estejam à vontade.
Termino esta coisa dizendo o seguinte: que o professor Marcelo está cada vez mais parecido com o Nigel Hawthorne (enfim, obviamente, antes de falecer, coitado, e longa vida ao professor, caramba!) embora com os trejeitos do Fernando Santos; e que Pacheco Pereira me fez mudar de canal; é que já cá tenho um buda e viro-o sempre para a parede, a ver se me dá sorte.
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