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11.12.07

A Lucinda e o internamento do mimo

É provavel que amanhã tenha de internar a Lucinda.
Está pior, piora a olhos vistos, embora não tenha dores que se meçam: tem, contudo, aquela dor que lhe vem da fraqueza e daquela impressão - que se lhe pressente cada vez mais forte - de que está no fim.
Na semana passada iludi-lhe o cansaço com oxigénio: pode mitigar-se a falta de ar em casa. Arranjei-lhe, mesmo, um "tubinho" comprido que lhe levasse o oxigénio, da botija às aletas nasais, enquanto cirandasse.
As coisas mudam rapidamente. Na semana passada, a Lucinda ainda deambulava. Agora já não.
Vou ter de a internar porque o internamento é o último dado novo que ainda tenho para a ajudar a encravar, por mais alguns dias, o programa do fim.

Eu sei muito bem que não são as camas, nem as enfermarias, nem a flora hospitalar, que tratam os doentes. Gostaria que os senhores, que são ciosos destas coisas dos gastos desnecessários com gente necessária, sossegassem a este respeito: eu não interno, não desencadeio a cascata das despesas de hotelaria e afins, no hospital, sem um motivo. Apreciava, contudo, que me entendessem. E ao meu motivo.
O "internamento de misericórdia", a "admissão para algum sossego temporário da família" e, sobretudo, o "vou dar-te agora um leito branco e limpo donde possas ver, ainda que deitada, algum alento nos olhos que te olham", não são despesas: são mimos.

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