blog caliente.

25.11.06

Funduras

A mulher entrou. E vinha simples, na sua entrada, que eu antecipara por a ter visto a rondar no vestíbulo da indecisão.
Os nossos olhos tinham-se encontrado na esquina da minha pressa e o aceno breve que nos demos, na altura, bastou-me. A ela não: viu-me logo.

Eu tinha-me sentado, naquela secura podre de ver análises, e ela impôs-se-me, brandamente, num "não me conhece?" que me gelou.
Reconheci-a logo. A viúva do Martinho estava ali, de pé, diante do meu corpo agachado na cadeira baixa, como se estivesse desrespeitosamente assentado nas lombadas dos livros das minhas histórias antigas, ocupado agora em tentativas envergonhadas de futuro.
"Claro que conheço. Já lá vão três anos. Está bem?"
"Não. E o senhor?"
"Também vou indo."

E nem ela me estendeu a mão nem eu me levantei, que as histórias são memórias que eu já disse, e duram o que eu já disse que duravam.

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