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18.3.06

Pão de ontem

Um homem (ou uma mulher), diante de dois, três, sete caminhos, em tendo tempo para escolher pensando (e tem de ter tempo, por pouco que seja, senão é melhor dizer que não vai a jogo, que passa) escolhe um deles, se tiver de escolher um.

Cada caminho tem os seus riscos, é o problema dos caminhos. E, de chegadas, de destinos dos caminhos, suponhamos que se conhecem, apenas, estatísticas. É a vida: tomem o exemplo da esperança média de vida dum povo qualquer e vão dizer isso ao puto (desse povo) que tem leucemia, cujo transplante falhou, ou que nem sequer chegou a poder ser-lhe oferecido um, essas disparidades de merda que são sempre irrelevantes para médias e medianas.

É justo que, perante uma escolha, se julgue a escolha pela consequência que a escolha teve?, sendo inatacável (ou, ao menos, defensável, que inatacável eu nem sei quem possa ser, no mundo, agora, ninguém, presumo e acredito, não sei se bem se mal) quando se pensou (e assumiu), que a escolha que se fez era, ou parecia ser, a melhor, de acordo com a informação disponível e interpretável com honestidade? - lá está, como se mede a honestidade?, isto é ridículo, eu devia parar isto, mas não consigo...

Vai assim, de esguicho:
É justo punir o acto do outro pela consequência do acto do outro, apenas porque não se consegue medir tão bem a intenção do outro ao praticar o acto, que é (quando estamos a julgar) sempre "a intenção do outro", esse ser falível, muito mais falível do que nós, "por isso é que somos nós a julgar e ele a estar ali, sentadinho, atento e triste"?

Não sei, mas acredito muito que não, que não é muito justo.

Isto não vem a propósito de nada, é como o resto que costumo escrever, é mortadela para fatias de pão de ontem.

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