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10.3.06

Luís Aguiar-Conraria:

Tens mau feitio, às tantas, tu. Eu não tenho. Se tenho, tenho menos do que tu.

Se por acaso pensas que falei em ilhéus por falar, assim no ar, ficas a saber que não. Não conheço outras ilhas, é dos Açores que falo, quando falo em ilhéus, dos Açores que me acolheram quando precisei deles e eles precisaram de mim. Gosto de pensar que precisaram, ao menos. Abriram-se-me, na altura, disseram-me para ir. E eu dei-me a eles: fui.
Depois, tive outras precisões e vim-me embora. E, agora, cuido que os Açores também já não precisam de mim para coisa nenhuma. Assim eu pudesse dizer o mesmo dos Açores, mas não posso, não consigo.

Gosto dos Açores, portanto. E sei que és dos Açores. Percebi isso ao ler-te, e ao Cristóvão. Há pouco tempo.
Não te atrevas a pensar - sim, tu, Luís Aguiar Conraria! - que o que escrevi foi depreciativo ou desrespeitoso, para os Açores ou para o Cristóvão. Ou para ti, que embora não me estivesses na memória quando escrevi aquilo, passas a estar agora: nem por sombras, muito pelo contrário, estás a ouvir?
Bom, isto que fique claro. Os Açores são um bocadinho da minha terra e o texto do Cristóvão é muito bom.
Mantenho o que disse, portanto, ó ilhéu.
Tens mau feitio, tu. Frases secas e cortantes. Deves ser corisco.
Eu não tenho mau feitio. Tanto como tu, pelo menos, não. Não tenho.
Corisco, se queres saber, não me importava de ser. Mas traio-me nas frases: não sou.

Um abraço, se o quiseres; senão, dá-o ao teu Pai, Cristóvão, pode ser que o queira ele.
Em correndo bem, ficai os dois com ele, a intenção era essa.

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