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21.3.06

Ilha

Quem chega à ilha, estrangeiro para ficar, tem de aprender, primeiro, a calma de estar só.

Ninguém na ilha tem, da solidão e da calma, uma ideia de desgraça. Quem chega à ilha não é, portanto, procurado para afagos. A ilha não vê necessidade doutros carinhos que não sejam os que já dá, sem procurar por quem lhe chega. Não suplica que lhe vejam a beleza. Não implora que se esteja lá bem. A ilha não se sente um desterro, por isso não inventa (nem mima) desterrados. Por que o faria?

Quem chega à ilha, percebendo isto, percebe tudo. Não se sente forçado num exílio, não implora carinhos que ainda não mereceu, entende a beleza e, sobretudo, redimensiona-se: recria-se, recreia-se, na sua pequenez de aprendiz dos verdes, dos cinzentos; enrijece e aprofunda-se na humilde condição de observador, apenas iniciado nos tempos do mar e da bruma, quase permanentes ambos, misturados, a bruma e os tempos, tudo nos olhos das pessoas.

Se não se mexer demais, se não desdenhar sabedorias, se se dispuser a aprender antes de ensinar seja o que for, será da ilha em dois meses. E será dela para sempre. E a ilha abrir-se-á, sempre cinzenta e verde, finalmente, para si. Ficando imensamente grande.

Com pouco brilho, é o que se consegue, mas do coração, para a tripulação do "Destreza das Dúvidas" - por escreverem tão bem coisas tão bonitas- e para todos os açorianos que calharem tropeçar nestes pedaços xistosos de má prosa duriense.

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