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30.7.05

Rostos

Bruno Paixão decidiu como decidem os árbitros e as pessoas portuguesas todas, em geral. Decidiu a direito, porque não decidir assim é muito mais complicado e exige limpidez. A direito é mais fácil, as críticas diluem-se nas regras, quando se decide a direito. E perde, com isto, a limpidez, que se dilui sempre menos em meios movediços, quanto mais não seja por ser sólida. A limpidez é transparente, mas é sólida. Não sabiam? Atirem um calhau de xisto à água dum ribeiro e vejam que, depois do chapão, a pedra não se dissolve. Vai ao fundo? Isso é outra conversa. Uma conversa em que se provaria, facilmente, que um xisto carece de limpidez. Admito.

Moutinho fez falta grosseira em jogo amigável. Se não tivesse acontecido mais nada, isto é, se o outro tipo não lhe tem dado um murro, na ressaca, se se ficasse a contorcer de "fiteira dor", no chão, Moutinho levaria um amarelo. E o outro, nada. Seria justo.

Para mentes pequenas e habituadas a julgar a direito, o facto do inglês (que é africano) se ter levantado do chão e pespegado um soco no Moutinho tornou-se um problema novo. Os tontos não resolvem, em regra, problemas novos. Vão ao regulamento e exibem-no, eis a verdade que aqui está.

A vida não é assim.

Bruno Paixão, perante problema novo, julgou a direito: amarelo para Moutinho (que pediu logo desculpa, sendo mesmo afagado - porque é puto e pediu desculpa, não havendo nada mais ternurento nesta vida que ver um puto pedir desculpa, sem ser por SMS - pelos adversários) e vermelho para o outro. Se tivesse mostrado o vermelho aos dois seria forçado, se houvesse vermelho para Moutinho teria de haver roxo para o homem do Boro. Isto complica muito, quando não se decidiu, antes, sobre o que fazer em situações complicadas.

A vida exige-nos que saibamos sempre o que fazer, isso é que custa. Temos de antecipar o que nos pode acontecer antes de acontecer. Não para salvarmos nada, apenas para decidirmos bem. A boa decisão tem a amplitude do peito humano, geralmente.

Num jogo amigável, e mesmo noutros jogos mais a sério, o árbitro, o juíz, tem de julgar sem ser a direito. Tem de julgar esquerdo. Muitas vezes é assim, na vida toda.
Naquele caso, um aperto de mão obrigatório e pedagógico, seguido de amarelo para os dois, estaria bem.

Claro que um árbitro que sorri como Bruno Paixão sorri, naquele esgar eterno de cúmplice de qualquer coisa, não pode ser, nunca, pedagógico. Há qualquer coisa de premeditado no seu rosto, no seu sorriso, que lhe impede pedagogias e lhe acarretará, sempre, suspeições.

Quanto ao resto: os ingleses, com 10 ou com 11, são bons fregueses do Sporting. Tinha logo de nos calhar, para o "tira-teimas" uma equipa italiana, a Udinese. Quarta classificada do campeonato italiano, ou seja, uma cambada de "retranqueiros" do pior.
Sobre isso, eu digo qualquer coisa, mais em cima do acontecimento.

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