O MEC e essa coisa do respeito
Cresci um bocadinho a ler as crónicas do Miguel Esteves Cardoso, a comer no restaurante "Forno" (mesmo no Forno, quem vai para o Alto da Maia) e em cantinas, a ver os outros festejar campeonatos e a votar quando me pediam. Está bem, a fazer outras coisas também, mas não vêm agora ao caso.Podia dar-me para falar do restaurante "Forno", aliás trespassado há largos anos, que era dum bom e cota amigo, com uma excelente e educada família, e que ficava perto dum cabeleireiro que se chamava "Os três Freitinhas". "Os três Freitinhas"! Era um estabelecimento comercial, dedicado às artes capilares e suas adjacências, que pertencia ao Freitas, o "negão" forte que foi central do Porto de Pedroto, depois de despontar no Belenenses. Os três Freitinhas eram os filhos dele, do Freitas, vi-os lá muitas vezes, conforme lá vi outras pessoas. Até eu lá ia.
Mas não. Penso que é noite de falar um bocadinho sobre Miguel Esteves Cardoso.
Está bem, eu depois corro os Miguéis todos, o Sousa Tavares, o senhor que é irmão do outro senhor que vai à América receber a medalha, os Miguéis que quiserem, menos o "de Vasconcelos". Nome belga, holandês, este; seguramente da Flandres, pelo menos, como "de Wilde".
Eu próprio tenho um filho com esse nome, Miguel, venho aqui depois dizer as notas que teve no terceiro período, ou isso.
Do MEC (para quê marcar diferenças de palonço, chamando-lhe agora o nome por extenso, quando toda a gente o conhece assim?) li quase tudo. Crónicas sobre viagens a Estugarda (a ver jogar o Benfica contra a agência Abreu, em 1988), sobre a farinha Amparo e o leite Vigor, sobre pontuações dadas a nomes completos, sobre o mimo, sobre "ares condicionados Mitsubishi", sobre o "basta-nos saber que podia ter sido, escusamos de nos sujar, não é...?".
Muito bem escrevia e escreve o MEC.
O primeiro blogue que conheci foi o dele, o "Pastilhas". Não era bem um blogue, li isso depois, algures. Nas vezes que lá fui espreitar, já há mais de 2 anos, nunca o vi por lá, nem mesmo às terças-feiras (tínhamos urgência na mesma noite, pelos vistos...) mas marcavam presença o senhor carne e o maradona, por exemplo.
Mas antes, dantes, é que sim. Valia mais a pena, o MEC. Antes de se ir embora para dentro é que se via mais por fora. Valia-nos mais a pena, a nós. A ele, oxalá que não. A vida dele é dele e eu trago aqui, apenas, fiapos de passado, já ardeu. E, se ardeu, é porque tinha por onde arder.
O MEC não nasceu naquele programa da Júlia Pinheiro, em que contracenava com o gordo Serrão (fora mais magro, o Serrão, tínhamos ali o Goofy) e com aquele "belfo" irritante, com nome suíço. E com a Rita Blanco, que uma vez disse broche em inglês sentindo-se culta e interessante, enquanto o MEC sorria. Eu lembro-me do sorriso e da "interessância" toda. E lembro-me do Luís Coimbra, esse sim, fina presença de fino.
O MEC quase ia morrendo aí, isso sim, naquele programa, entre a Júlia e os trastes que foram ficando.
Lembro-me disso, lembro-me de muitas coisas, mas lembro-me mais das coisas que ele, o MEC, escreveu sobre a República Portuguesa. Por exemplo. E sobre outras coisas, sacana do monárquico "orelhudo", que não tinha parança na caneta.
O Amor é Fodido não li. Tenho, mas não li. Porque, como calculam, quando o comprei já sabia.
Hoje vi outra vez as duas filhas dele, as gémeas. Na televisão.
Lembrei-me dele, sobretudo, por isso. E também por ter lido, algures, "que ele foi e é aquilo que nunca se deve ser, que quase mete nojo".
É mentira. Não mete nojo nenhum.
Pantomineiro (esta foi no avião, entre benfiquistas, "lá vai Serpa, lá vai Moura", alguém se lembra?) é que sim. Isso ele é. E ainda bem.
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