blog caliente.

3.9.04

Amanhã passa-me

O fim das férias, além de ser "bué da seca" (Zé Pedro e João no seu melhor), podia e devia significar o regresso a projectos de trabalho aliciantes, motivadores, que tivessem ficado a marinar enquanto a gente descansava deles para os reabordar depois, já fortalecida dum grande e amadurecedor sossego. De sossego ou de estúrdia, que a estúrdia não passa duma versão mais ruidosa e espampanante da calma placidez que é o clássico sossego. E ambos, sossego e estúrdia, na sua complementaridade integrada de irmãos de sangue, retemperam.

O pior é quando não acreditamos nos projectos que nos impõem, quando nos recusam ou adiam os nossos, quando já nem nos nossos projectos acreditamos, quando já nem temos a certeza de ter projectos, quando sabemos que se aproxima mais uma longa temporada de sucessivos impasses e correrias de barata tonta de cega, "nós atrás das pulgas e elas aos saltinhos", quando já vimos o filme, não nos sentimos lá muito bem a vê-lo, não gostámos assim muito do que vimos e, apesar disso, lá estamos nós, de novo, como figurantes de plateia... a mais inerte forma de figuração que há.

Bom, o fim das férias, assim, assemelha-se mais a um reentrar soturno de condenado no presídio, após mais uma precária que se acabou.

Devemos viver um dia de cada vez... isto é bonito. Diz-se bem, isto. E causa efeito durante dezassete segundos, porque é uma verdade muito grande, quase tão grande como dizer que devemos viver um ano de cada vez e pouco mais pequena que afirmar a vantagem de viver, já agora, uma hora de cada vez.

A mim não me enganam. Não se caminha bem, nem sequer um segundo, a menos que tenhamos a fundamentada esperança (não é apenas a florida crença, essa esvai-se nos tropeços) de ter bom caminho a construir ou a percorrer, pela frente.

Podemos é fingir, mas isso é outra conversa.

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