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19.5.04

romantismos cínicos ...

A lolita escreveu ali abaixo umas coisas interessantes sobre o casamento. Fiquei sem saber se é romântica, cínica ou "something in between".

O comentário do besugo é particularmente cínico, no que respeita à apreciação que este faz do comportamento masculino perante o sexo oposto. E, não obstante, ele é um romântico.

Eu sou assumidamente cínico. Desconfio em geral da natureza humana e acho que a complexidade das regras sociais que a espécie humana foi desenvolvendo se deve à necessidade de se defender de si própria. Não creio na teoria do "bom selvagem" ou do Homem como primitivamente bom e puro. Pelo contrário.

E acho que o casamento não tem por objecto que duas pessoas do sexo oposto vivam a vida toda em estado de permanente paixão. Quem assim pensa (e há românticos - sobretudo românticas - que pensam assim) está condenado a ser infeliz nos seus casamentos (sim, porque terá vários).

O casamento vai muito além disso. Traz muito mais do que isso. Leva de nós muito mais do que isso. E a sua natureza essencial não é proporcionada pela paixão - que, no entanto, também existe e não só necessariamente no princípio - mas por muitos mais sentimentos.

Comparem-no à relação fraterna, materna, paterna ou filial. Ainda é mais complicado. Nesses casos, falamos de relações que não se escolhem e nos acompanham o resto da vida. No casamento falamos de uma relação ainda mais próxima, pensada para ser para o resto da vida, mas que foi "escolhida".

Pensem na cumplicidade e na amizade e nos segredos "só dos dois". Mas também nas zangas e mesmo na insuportabilidade recíproca que de vez em quando surge.

Há quem tenha azar, há quem tenha sorte. Mas a latência predatória que deixa de ser latência não é a causa do fim de nenhum casamento. É a consequência.

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