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18.5.04

O problema das balizas

O Moreira está de parabéns. A convocatória dum sub-21 para uma prova da importância do Europeu 2004 é atestado de valor. Que o rapaz tem valor, aliás, já se sabe. Tem-no demonstrado sobejas vezes. É grande (é diferente de ser só alto... é um guarda-redes na linha do Casillas, com envergadura, não é do género do Van-der-Saar, por exemplo, que é alto mas menos possante, um fivelinhas), é atento, é trabalhador e talentoso. Tem futuro. Falta-lhe tarimba, é normal, mas tem futuro.

No entanto, o melhor guarda-redes, dos 3 convocados, é o Ricardo. Não o digo por sportinguismo, acreditem. Limito-me a não mudar de opinião, mesmo após uma época difícil e sofrida do rapaz do Montijo.

Deixemos as razões de Scollari de lado. Deixemos Vítor Baía de lado, também. Como Scollari deixou. Eu não deixava. Caramba: só se houvesse ponderosas razões, que não sei se há. Mas se não houvesse, se fosse só pela valia potencial, Baía tinha de lá estar. É a minha opinião, desculpem. Mas deixemos este aspecto (relevante) da questão, que está ultrapassado.

Ricardo e Baía cometeram fífias notórias (mais o Ricardo, é certo) durante o campeonato. E o Ricardo, em alguns jogos de preparação da selecção, teve muitas dificuldades. Não é fácil ser titular da selecção com a sombra de Baía a ofuscar-nos a titularidade. A bem dizer, não é fácil com outra sombra qualquer, mas com a de Baía, titular indiscutível desde sempre, é mais difícil.

Ricardo é muito bom entre os postes. No jogo aéreo nem tanto mas, quanto a isso, nem o Quim, nem o Moreira, nem o próprio Baía podem cantar de galo: nenhum é grande espingarda nesse particular. É fácil perceber porquê: o nosso campeonato não é o melhor tubo de ensaio para aperfeiçoar esse tipo de lances, somos de tabelinhas, não somos britânicos ou germânicos no cruzar.

Ricardo tem vindo a ser titular. E, com alguns gaguejos, lá se tem mantido. Agora, liberto da pressão suplementar do tabu-Baía (e Baía não tem culpa nenhuma, podendo discutir-se, até, se Ricardo não deveria ter sido mais afirmativo e demonstrativo durante a "crise"), acredito que vamos voltar a ter o excelente Ricardo na baliza portuguesa.

Moreira, um jogador correcto e muito competente, vai ser (quase de certeza) o futuro. Mas o presente, o merecido (apesar de tudo, sem apoucar Baía que, repito, por mim estaria lá, titular ou não ver-se-ia depois), o esperançoso presente, é de Ricardo.

E que tudo lhe corra bem, ao Ricardo, em memória deste outro Ricardo, que mataram na Somália há uns anos atrás, enquanto representava (e bem) Portugal.

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